04/10/2017

March Engineering (Round 1)

A “March Engineering” pode ser lembrada pelos seus projetos na F1 que não foram assim tão bem-sucedidos, mas a sua história e importância para o automobilismo mundial vai muito além disso!
Por quase 30 anos a March projetou e construiu carros de sucesso em categorias de fórmula (Fórmula Ford, Fórmula 2, fórmula 3, Fórmula Atlantic e Fórmula Indy) e também em protótipos (Can-Am, IMSA GTP e Endurance).
A March Engineering iniciou as suas operações em 1969 em Bicester, Oxfordshire, fundada por 4 sócios que juntaram seus talentos em áreas específicas; Max Mosley (advogado de formação, cuidava da área comercial),
Mosley, Rees, Coaker e Herd
Robin Herd (designer, era o projetista chefe), Alan Rees (ex-piloto, gerenciava a equipe de corridas) e Graham Coaker (ex-funcionário da Hawker Siddeley, cuidava da fábrica).

Desde a sua criação decidiram por diversificar a atuação da empresa em muitas categorias, a ideia era utilizar os lucros da fábrica de carros de corrida para financiar a equipe de F1, o grande sonho de todos. Na prática isso nunca foi tão simples.
Em 1969 a March lançou o seu primeiro carro para a F3 e já no ano seguinte causou espanto ao anunciar o seu programa para a F1, com uma equipe própria e fornecimento para equipes clientes. A produção de carros para a F2, F3, Fórmula Ford e Can-Am seria mantida. 
A equipe própria da F1 consistia em ter um único carro para a estrela em ascensão Jochen Rindt, porém Rindt decidiu continuar com a equipe Lotus de Colin Chapman frustando os planos originais da March. 
March 701 da Tyrrell
Mesmo sem Rindt o modelo 701 da temporada de 1970 nasceu promissor, o ex-projetista da BRM Peter Wright (futuro projetista do Lotus 78) assinava um projeto com várias inovações como tanques de combustível de perfil aerodinâmico colocados ao lado do carro. A equipe de fábrica teria dois carros para Jo Siffert e Chris Amon (com o lendário patrocínio da STP), as equipes clientes seriam a Tyrrell, que estava deixando a Matra, para Jackie Stewart (na verdade não foi nada mais do que uma transição até Ken Tyrrell finalizar o seu chassi próprio), além de outras equipes menores chegando a 10 unidades produzidas do 701, entre eles um chassi utilizado pela equipe de Andy Granatelli em algumas etapas para o novato Mario Andretti.
O ano de estreia na F1 como um todo foi bom, apesar da equipe de fábrica não conseguir nenhuma vitória, Jackie Stewart conseguiu a primeira vitória de um March no Grande Prêmio de Espanha.
Para a temporada seguinte da F1 foi apresentado o 711, a aerodinâmica era assinada por Frank Costin que desenhou uma asa frontal apelidada de “Spitfire” (por sua forma) ou "Tea-tray" (para posição elevada no carro). Apesar de não conseguirem vitórias, Ronnie Peterson terminou 4 GPs em segundo lugar e acabou o ano como vice-campeão.
March 711
Em 1972 as expectativas foram aumentadas com o 721, na verdade um desenvolvimento do 711, mas os resultados foram muito abaixo. Ainda durante a temporada foram utilizados outros três chassis, Ronnie Peterson e Niki Lauda utilizaram o 721X com câmbio transversal Alfa Romeo, Frank Williams utilizou o 711 e 721 para os carros de Henri Pescarolo e José Carlos Pace. No fim o 721X foi considerado um desastre e abandonado. 
Um fato curioso neste ano ocorreu quando o cliente Mike Beuttler encomendou um novo carro, a equipe produziu o 721G em nove dias (o 'G' veio porque entrou para 'Guinness Book Of Records' como o carro construído em tempo recorde). Utilizando o motor Cosworth DFV, o 721G na prática era um chassi de F2 melhorado e se mostrou leve e rápido, dizem eu se estivesse pronto desde o começo do ano teria salvo a temporada da equipe na F1, por outro lado a March seguia conseguindo excelentes resultados na F2 e F3.
A temporada de 1973 marcou o céu e o inferno para a March, de um lado foram campeões na F2 com Jean-Pierre Jarier com o modelo 732 e motor BMW, de outro seguiam ladeira abaixo na F1. Os quatro chassis 721Gs foram adaptados as mudanças de regulamento (estruturas deformáveis ​​absorventes passaram a ser obrigatórias) e receberam algumas evoluções sendo renomeados como 731. A equipe Hesketh comprou um carro para James Hunt, Jarier correu algumas etapas e foi substituído por Tom Wheatcroft, no entanto a equipe viveu seu pior momento com o acidente fatal de Roger Williamson em Zandvoort, o acidente ficou marcado pela cena de David Purley tentando resgatar Williamson de seu carro em chamas.
Na temporada seguinte a Hesketh teve um carro aperfeiçoado por Harvey Postlethwaite e conseguiram marcar alguns pontos, isso foi mais uma evidência dos erros da fábrica no projeto básico do 731. 
Com tanta coisa contra a March acabou se vendo obrigada a dar mais atenção a F2 do que a própria F1, também lançaram um protótipo de 2 litros que correu até 1975, alguns destes carros foram sendo modificados e competiram no Japão até o começo dos anos 1980.
Na temporada de 1974 o time teve como pilotos Hans-Joachim Stuck, patrocinado pela Jägermeister, e Vittorio Brambilla no icônico carro laranja patrocinado pela Beta Tools, dupla que ficou marcada não por atuações marcantes, mas pelo alto número de acidentes. 
A March sentia a pressão cada
 GP de Pau de F2, 1973
vez maior da BMW, sua parceira da F2, para dar mais foco para a categoria onde venceram novamente o campeonato com Patrick Depailler e o vice-campeonato com Hans-Joachim Stuck, foi o último campeão da F2 com um March até 1978.
Na temporada da F1 de 1975 a March continuou tendo um papel secundário, tanto que foi uma grande surpresa a vitória de Brambilla no Grande Prêmio austríaco reduzido pela chuva, outro ponto marcante, não pelo lado esportivo, foi ter na equipe a única mulher a marcar pontos (na verdade meio ponto) na F1 com Lella Lombardi no fatídico GP da Espanha.
Outra tragédia marcou a March com a morte de Mark Donohue nos treinos do GP da Áustria, o carro era um Penske que não passava de um March modificado. A política de fornecimento de carros a equipes clientes continuava, mas a insatisfação destes também, ao ponto que Frank Williams comprou um chassi 761B, supostamente novo, e descobrir que era um 751 usado! O carro tinha a cor laranja do carro de Brambilla por baixo.
Em 1976 Ronnie Peterson cansou do carro pouco competitivo na Lotus e retornou para a March, ele conseguiu a última vitória na equipe em Monza com o modelo 761 que era rápido, mas sua fragilidade comprometeu os resultados da equipe, Peterson só marcou pontos em mais um GP e deixou a equipe no final da temporada.
March 2-4-0
Tal qual o Tyrrell P34 a March apresentou um projeto de 6 rodas, Wayne Eckersley utilizou o modelo 761 como base, mas com quatro rodas na traseira, o carro ficou conhecido como March 2-4-0. O carro foi testado em Silverstone no início de 1977 pelos pilotos Howden Ganley e Ian Scheckter, mas pelas dificuldades desistiram do projeto.
A pressão da BMW sobre a March para se concentrar exclusivamente na F2 estava muito alta, Robin Herd também preferia se concentrar inteiramente na F2 porque a March começava a ser superada por novos construtores, os franceses Martini e Elf e a nova marca inglesa Ralt.
Houve uma tentativa de renovação da equipe da F1 em 1977 com novo patrocínio (Rothmans) e pilotos (Alex Ribeiro e Ian Scheckter), mas o novo modelo 761 também não se mostrou competitivo e mesmo clientes habituais como Frank Willians foram buscar outras soluções. 
O sonho da F1 terminaria desta forma? Assunto para asegunda parte desta história...

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