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27/01/2018
18/01/2018
2 Tempos
Falar de motores 2 tempos numa época em que os motores híbridos e elétricos são o centro das atenções parece estranho, mas para o blog estes fumacentos e barulhentos motores, antes tão importantes, também merecem a nossa atenção.
Os motores 2 tempos tiveram o seu auge, nos carros e motos, nos anos 1960 e 1970, principalmente com marcas como a sueca SAAB, as alemãs ocidentais DKW (inclusive no Brasil) e Sachsenring, as alemãs orientais Trabant e Wartburg e a Japonesa Suzuki, nas motos tivemos a DKW e vários fabricantes Japonesas como Suzuki e Yamaha (quem não lembra da linha RD da Yamaha, em especial a RD 350).
Hoje o motor 2T está praticamente restrito para usos específicos como jetskis, motosserras, snowmobiles, karts, motores de popa e outras máquinas estacionárias. São motores que funcionam em qualquer orientação, o pode ser uma grande vantagem para estas finalidades.
O pioneiro nesta tecnologia foi o engenheiro escocês Dugald Clerk que patenteou a ideia inicial em 1881, mas o responsável pelo primeiro motor verdadeiramente prático foi o inglês Alfred Angas Scott, em 1908, quando começou a fabricar motocicletas utilizando este tipo de motor.
Numa comparação entre motores 2 tempos e 4 tempos temos várias diferenças, a principal são os ciclos de funcionamento:
Nos motores 4T, resumidamente, temos 4 ciclos bem definidos (admissão, compressão, ignição e escape), são necessários 4 cursos do pistão para completar um ciclo de potência, com uma ignição a cada 2 giros do virabrequim. São utilizadas válvulas e coletores de admissão para levar a mistura ar + combustível para a câmera de combustão e válvulas e coletores de escapamento para expelir os gases da combustão.
No motor 2T temos 2 ciclos (ignição e escape), na ignição o pistão sobe abrindo uma janela de admissão para entrada da mistura ar + combustível no motor, ficando alojada na parte inferior do virabrequim, no ciclo seguinte ocorre a ignição que empurra o pistão para baixo expelindo os gases de escape por uma outra janela superior.
Quando a janela de admissão se fecha e o combustível é levado para a câmara de combustão por um duto do virabrequim, as velas emitem a centelha e a ignição ocorre novamente, fechando o ciclo.
Um motor 2T pode ser movido a álcool, gasolina ou diesel, com diesel a entrada da mistura ar + combustível utiliza a injeção direta de combustível e um sistema de lubrificação na base do cárter.
Em termos teóricos o motor 2T gera o dobro de potência de um motor de 4T, porque precisa da metade dos ciclos do pistão para completar um ciclo de potência, esse foi o motivo que o emblema dos DKWs apresentava “3=6”, ou seja, o motor de três cilindros entregava o desempenho de um de seis. Na prática, nem sempre é assim porque o motor 2T sofre mais com as variações das condições de uso: rotação, altitude, temperatura e qualidade do combustível.
A relação peso x potência costuma ser mais favorável aos motores 2T, estes têm uma quantidade menor de peças móveis, não tem válvulas de admissão e escapamento por exemplo, tornando-se mais simples, compactos e leves.
Na questão de emissões de gases, porém, o motor 2T não é tão eficiente perdendo feio para outros tipos de motores de combustão interna. Essa limitação ocorre porque a lubrificação interna no motor 2T é feita através da mistura de óleo no combustível que é queimada pelo motor, o que gera muita fumaça (a tradicional fumaça azul com forte cheiro de óleo).
O fator ambiental tem sido determinante para o seu crescente desuso, as regulamentações estão cada vez mais rigorosas contra a poluição.
😊 Vantagens dos motores de dois tempos:
1 – Versatilidade: Um motor 2T pode funcionar em qualquer posição, inclusive de cabeça para baixo, ao contrário dos motores 4T tradicionais, isso permite ampliar a sua aplicação, de máquinas industriais, carros e motos, até aplicações domésticas e marítimas.
2 – Peso e tamanho: Facilita a sua aplicação em veículos compactos (jet skis, motor estacionário, etc), pois gera boa potência com menor capacidade e utiliza menos componentes internos.
3 – Funcionamento mais simples: O motor 2T não utiliza válvulas, o próprio pistão atua como válvula, controlando a abertura e fechamento das janelas de admissão e escape, com isso não existe um cabeçote para acomodar as válvulas. Não utiliza bomba de óleo, o combustível recebe óleo, e sistema de refrigeração líquida.
4 – Custo menor: Como utiliza uma quantidade menor de componentes e tem funcionamento mais simples, os custos de fabricação e manutenção são mais baixos, também demanda menor qualificação técnica para manutenção.
5 – Potência: O motor 2T pode chegar a produzir o dobro da potência de um motor 4T, vamos lembrar que o motor 2T completa um ciclo de funcionamento a cada volta do virabrequim, o motor 4T precisa de 2 voltas do virabrequim.
😒 Desvantagens dos motores de dois tempos:
1 – Alta emissão de gases poluentes: A lubrificação é feita pela mistura de óleo no combustível, isso gera altos índices de poluição porque o óleo é queimado junto com o combustível. Nos tempos de aperto da legislação de emissões isso inviabiliza a aplicação de motores 2T em veículos de carros, motos e veículos pesados, pois não possuem condições técnicas de atender a legislação de emissões.
2 – Maior Consumo de combustível: Nada vem de graça, para gerar o dobro da potência naturalmente haverá maior consumo de combustível.
3 – Necessidade de adicionar lubrificante regularmente: Existe a necessidade de misturar óleo no combustível porque o sistema de lubrificação não utiliza bomba de óleo. Exemplo: A cada tanque de 50 litros de combustível deve ser adicionado 1.000 mililitros de óleo lubrificante, é um trabalho adicional do proprietário. É melhor não ter uma garagem fechada...
4 – Maior Nível de ruído e vibração: Se o motor 2T produz o dobro de ciclos do que um motor 4T, naturalmente terá o dobro de ruído e vibração. Isso pode ser sentido mesmo com abafadores e isolamentos acústicos mais reforçados.
5 – Mais sensível as condições de funcionamento: Mudanças bruscas de rotação, altitude, temperatura ou qualidade de combustível tem grande impacto na performance.
6 – Menor durabilidade: O motor 2T não tem um sistema de lubrificação e refrigeração tão apurado como nos motores 4T, além de funcionar mais perto do limite (maior rotação), por isso costumam se desgastar mais e ter durabilidade menor.
Tecnologia simples e eficiente, mas que aos poucos perdeu relevância por restrições ambientais e consumidores mais exigentes sobre questões de ruído, consumo e durabilidade... Vai uma fumacinha aí?
14/01/2018
Hot Poster - Daytona 24Hs
Voltando a nossa série de posters das mais incríveis corridas, nos dias 27 e 28 de janeiro teremos mais uma edição das mais tradicionais corridas do mundo, que acontece desde 1962.
E neste ano, para melhorar, teremos uma incrível legião de pilotos brasileiros com chances de vitória (na geral e em suas categorias).
Na boa? Se você estiver passando férias em Orlando não pode perder, se a esposa ficar brava deixa eles irem para a Disney... (Se ela te pressionar para escolher entre a Disney e Daytona, espero que você não me decepcione!).
Para saber mais (ou comprar as entradas😝): http://www.daytonainternationalspeedway.com
12/01/2018
Hollister Riot
Aqui no blog já falamos de histórias dos famosos clubes de moto 😠(Hells Angels, Pagans, Outlaws e Bandidos) que são os considerados os “1%ER”, mas ainda não havíamos falado da origem deste termo...
Essa história começa entre 3 e 6 de julho de 1947 na pequena cidade de Hollister, Califórnia, onde anualmente a AMA (American Motorcyclist Association) organizava o “Gypsy Tour motorcycle rally “.
Era um evento criado para ser apenas um encontro festivo entre motociclistas, mas os fatos ocorridos naquele ano chocaram a sociedade americana e, ao longo do tempo, desencadearam muitas outras coisas na história do mundo das 2 rodas. Tudo isso acabou ficando na história como o “Hollister Riot”.
As coisas começaram a sair do controle quando cerca de 4.000 motociclistas (10% mulheres) chegaram para participar da festa, era um número muito maior do que o esperado pelos organizadores.
Literalmente, os participantes “tomaram conta” da pequena cidade, buscando os shows, socializar e, como não, beber além da conta causando agitação e baderna.
Veremos que, perante todo o potencial de confusão, ao final do evento os danos foram muito menores do que poderiam ser, ainda assim a repercussão negativa foi enorme!
Para entender o porquê de tanta repercussão negativa, temos que olhar com atenção o momento pelo qual passava a sociedade americana, dominada como nunca por valores conservadores.
Muitas famílias e ex-combatentes viviam algum trauma pós Segunda guerra mundial, isso significava tolerância zero para confusão ou dificuldades de readaptação a uma vida “normal”.
Inúmeros veteranos sentiam dificuldades em se reajustar a vida civil, fosse por falta de aventura, da adrenalina ou dos seus “irmãos” de armas, muitos de fato nunca conseguiram superar seus horrores e traumas.
Indiretamente, esse sofrimento fortaleceu os clubes de motocicletas, entidades que "ofereciam" aventuras, perigos e camaradagem, além de existir farta e barata oferta de motocicletas excedentes das forças militares.
E o evento "Gypsy Tour" em Hollister? Já ocorria anualmente desde a década de 1930, só foi cancelado durante a 2ª guerra mundial, com o objetivo oficial de promover o turismo no dia quatro de julho, o Memorial Day.
Outros eventos semelhantes ocorriam em toda a América, mas Hollister era considerado um dos melhores por ser realizado numa cidade muito pequena (cerca de 4.500 pessoas) que o tratava como o "grande acontecimento do ano".
Voltando a 1947, os principais MCs da época estavam presentes: “The Pissed Off Bastards of Bloomington”, “The Booze fighters”, “The Market Theater Commandos”, “Top Hatters Motorcycle Club” e o “Galloping Goose Motorcycle Club”.
A estrutura da cidade se mostrou totalmente despreparada para atender número de pessoas que chegavam, os 21 (!) bares não suportaram tanta gente e logo o pessoal começou a andar de moto completamente bêbados, jogar garrafas de cerveja nas janelas, tirar rachas e outras confusões menores. Não haviam hotéis também, logo os motoqueiros passaram as noites dormindo pelas calçadas e gramados.
A “imensa” força policial da cidade, composta por apenas 7 policiais, tentou parar com a bagunça montando barricadas, usando gás lacrimogênio e prendendo o máximo de embriagados possível, os bares fecharam duas horas antes do tempo, mas mesmo assim a agitação continuou até o término do evento, deixando muita sujeira e garrafas de bebidas vazias para trás.
Muitos moradores até sustentaram que não houve de fato uma depredação generalizada, os motociclistas apenas estavam extravasando sem causar grandes danos. O saldo final foram cerca de 50 pessoas presas, a maioria por embriaguez e perturbação da paz, também foi contabilizado 60 feridos sendo 3 em estado grave, mas nenhum morador da cidade esteve envolvido nestes incidentes.
Porém, os incidentes em Hollister foram, logicamente, explorados de maneira exagerada e sensacionalista pela imprensa americana, relatando que os motociclistas "assumiram o controle da cidade" instaurando um verdadeiro "pandemônio". O jornal “San Francisco Chronicle” descreveu o evento com os títulos "Havoc in Hollister" e "Hollister's Bad Time", comparando a atos de terrorismo.
Uma foto tirada por Barney Peterson, repórter do SF Chronicle, retratando um motociclista bêbado (Eddie Davenport, dos Tulare Riders motorcycle club) em cima de uma moto cercado de garrafas de cerveja virou o símbolo do “caos”.
A tal foto foi publicada pela revista Life, na edição de 21 de julho de 1947, transformando o assunto em escândalo nacional, afinal a Life era um dos principais meios de comunicação nos Estados Unidos na época.
Algumas testemunhas sustentaram, porém, que a foto foi encenada, outros defenderam Peterson dizendo que nada foi arranjado, interessante que o jornal SF Chronicle relatou o tumulto e não publicou a foto, mesmo Peterson sendo seu repórter.
Independente desta discussão, o resultado foi toda a opinião pública americana se voltar contra quem estivesse em cima de um veículo de 2 rodas.
A repercussão negativa foi tamanha que a AMA foi obrigada a divulgar uma declaração dizendo que não tinham envolvimento com os ocorridos em Hollister, dizia o comunicado: "o problema foi causado por um por cento que mancham a imagem pública de motocicletas e motociclistas, logo 99% dos motociclistas são cidadãos bons, dignos e respeitadores da lei".
Nascia assim o termo “1%er”!!!
O curioso é que atualmente a AMA sustenta não ter registro de ter emitido tal declaração, mesmo assim o termo “one-percenter” ainda é amplamente utilizado para descrever os clubes e motociclistas foras da lei.
No fim das contas, o tumulto de 1947 não teve mesmo graves efeitos sobre a cidade, tanto que o evento continuou sendo realizado anualmente na cidade.
Efeito-solo (round 2 final)
Continuando nosso post sobre efeito-solo...
Na F1 o primeiro resultado vencedor de um carro com efeito solo veio em 1978 com o Brabham BT46B do Gordon Murray, que ficou conhecido como “Fancar” (carro-ventilador). Murray também utilizou um ventilador para sugar o ar e gerar enorme downforce, a medida que o motor subia rotação mais força de sucção era gerada.
Na F1 o primeiro resultado vencedor de um carro com efeito solo veio em 1978 com o Brabham BT46B do Gordon Murray, que ficou conhecido como “Fancar” (carro-ventilador). Murray também utilizou um ventilador para sugar o ar e gerar enorme downforce, a medida que o motor subia rotação mais força de sucção era gerada.
O curioso foi que o BT46B correu só uma vez, vencendo facilmente o GP da Suécia com Niki Lauda, mas foi proibido de correr logo depois. Oficialmente a razão foi o perigo do ventilador jogar detritos nos carros que vinham atrás, mas também as outras equipes fizeram um forte lobby porque que o BT46B era tão superior que iria simplesmente aniquilar a competição, talvez por alguns anos.
Foi banido o "Fancar", mas não o efeito solo, logo veio o Lotus 78 projetado por Colin Chapman. O Lotus 78 foi o primeiro bólido com efeito solo a ser campeão mundial de F1 em 1978.
O Lotus 78 conseguia uma grande vantagem frente aos demais mesmo não usando ventiladores, o segredo estava no fundo liso e na suspensão móvel, em alta velocidade o carro abaixava e o fundo plano, auxiliado por "minissaias", criava muito mais downforce do que os rivais. Mais uma tacada genial do mestre Chapman!
O Lotus 78 conseguia uma grande vantagem frente aos demais mesmo não usando ventiladores, o segredo estava no fundo liso e na suspensão móvel, em alta velocidade o carro abaixava e o fundo plano, auxiliado por "minissaias", criava muito mais downforce do que os rivais. Mais uma tacada genial do mestre Chapman!
Porém, nem tudo eram flores, os carros com efeito solo da época eram muito sensíveis as imperfeiçoes das pistas, se o carro estivesse em uma curva de alta velocidade e repentinamente o vácuo fosse “quebrado”, por uma ondulação por exemplo, o carro literalmente decolava trazendo muitos riscos aos pilotos.
Por isso as suspensões móveis e minissaias acabaram sendo banidas, mas ficou o assoalho plano. Para evitar que o regulamento fosse burlado foi instalada uma prancha de madeira debaixo do carro, ao final da corrida a espessura da prancha era verificada para provar que o carro não utilizou alguma artimanha durante a corrida para colar o carro no chão.
Anos depois os projetistas começaram a se valer de narizes altos, como o Benetton B193 de Rory Byrne. Neste conceito são criados vórtices de ar na parte da frente do carro, que selam parcialmente a abertura entre os sidepods e a pista.
A medida que as velocidades em curva aumentavam perigosamente, novas restrições foram feitas nos regulamentos da F1, como a obrigatoriedade de narizes mais baixos.
Mesmo assim o efeito solo ainda existe através de algumas artimanhas mais sutis, mas com um resultado infinitamente menor do que antes.
Fatalmente, em breve, veremos alguma outra solução engenhosa em busca do tão sonhado efeito-solo, afinal os regulamentos até podem ser alterados, mas conceitos da física não mudam e a capacidade de gênios como Adrian Newey parecem não ter limites.
(o vídeo abaixo de Goodwood vale muito a pena ser visto e revisto).
05/01/2018
What´s your name? Viúva Negra
Lançada em 1973 e produzida até 1993, a Yamaha RD 350 marcou época nas ruas e nas pistas, inclusive pelo polêmico apelido que recebeu: Viúva Negra.
A designação RD vem de “Road Developed”, traduzindo para algo como “feita para disputas”, no Brasil o modelo fez muito sucesso entre 1974 e 1976, quando o mercado foi fechado para importações de carros e motos.
O modelo importado tinha o tradicional motor de 2 tempos de apenas 347 cm3 e 3,8 mkgf de torque, era uma moto muito potente desenvolvendo 39 cv a 7.500 rpm, com apenas 143 kg de peso atingia a velocidade máxima de 166 km/h e acelerava de 0 a 100 km/h em torno de 7 segundos, deixava para trás até algumas motos maiores.
Era quase uma moto de competição feita para andar nas ruas, mas o que a tornava desafiadora era a sua curva de torque, em baixa rotação era quase nula, mas a partir de 5.000 rpm ocorria uma “explosão” de potência. Além de acelerar forte e encarar bem as curvas rápidas, a estupida curva de potência da moto exigia muita habilidade para lidar com os freios e o motor 2 tempos nas reduções e retomadas.
Estas características não eram nada simples de domar, principalmente no mercado brasileiro onde não eram oferecidos outros modelos com as mesmas características, tais exigências levaram muita gente boa para o chão, infelizmente com várias vítimas fatais.
Em 1986 a moto passou a ser produzida no Brasil, mas já sem tanta bestialidade e com muitas mudanças visuais, incluindo uma carenagem semi-integral (urgh!).
Difícil dizer se o apelido ajudou ou prejudicou as vendas da moto, o fato é que ajudou a criar um mito, afinal ser dono de uma viúva negra era também sinônimo de ser um piloto hábil e corajoso.
Coisas do bicho homem....
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