05/05/2015

Alfred Neubauer

Neubauer ao volante com Ferdinand Porsche
No mundo das corridas o destaque normalmente é reservado para os pilotos, seja pela coragem, técnica ou até carisma pessoal. Neste contexto, achar alguém que tenha se imortalizado não sendo piloto é  incomum, sendo um “chefe de equipe” então é mais difícil ainda...
Esta constatação nos ajuda a entender o tamanho da importância que Alfred Neubauer tem na história do automobilismo mundial.
Nascido a 29 de março de 1891, em Neutitschein, uma cidade da região de Morávia-Silésia na atual republica Tcheca, era conhecido pela família e amigos como Friedl. 
Alfred começou o seu envolvimento com carros como mecânico de veículos militares, servindo ao exército Imperial Austríaco durante a primeira Guerra Mundial.
Com término da Primeira Guerra, Alfred começou a trabalhar para o fabricante austríaco de automóveis Austro-Daimler e lá conheceu um cara chamado Ferdinand Porsche, que o nomeou como piloto de testes. Em 1922, Alfred chegou a participar de algumas corridas como piloto, mas sem obter sucesso. 
Ferdinand Porsche foi trabalhar para a Daimler em Stuttgart, em 1923 (lembrando que a Daimler-Benz foi fundada em 1926) e não tardou em levar Neubauer para trabalhar com ele. 
Porsche logo percebeu que Alfred não tinha talento com piloto e lhe ofereceu o cargo de gerente de equipe de corrida (Rennleiter), dizem que a esposa de Neubauer dizia que ele “dirigia como um vigia noturno”! 
A nomeação foi curiosa, pois o automobilismo estava em estágio embrionário e até então não existia este cargo no mundo das corridas. 
Mas, foi no comando da equipe Mercedes que Alfred se revelou um líder excepcional. Ele não projetava ou pilotava, mas aplicava um padrão de organização quase militar na equipe, sendo perfeccionista ao extremo, tinha grande conhecimento técnico e habilidade tática. Foi o primeiro a se preocupar a “enxergar e entender” o desenvolvimento de uma corrida com um todo, sempre dirigindo a equipe com mão de ferro.
Na época era comum o piloto e a equipe não saber a sua posição ao final de uma corrida, mas Neubauer já entendia que poderia alcançar o potencial máximo de carro e piloto estabelecendo uma forma de comunicação durante a corrida. 
Foi ele quem criou o primeiro sistema com bandeiras e placas para informar as posições e passar as orientações básicas aos pilotos, quando estreou o sistema em 1926 em Solituderennen, o chefe dos comissários exigiu que ele se retirasse da pista, pois estava irritando os outros pilotos com suas “palhaçadas”. Alfred também fazia os mecânicos treinarem pit stops por horas a fio, isso em 1926!
Para sua sorte, o presidente da empresa na época, Wilhelm Kissel, era um entusiasta das corridas e deu total atenção as ideias de Neubauer. Kissel também enxergou que um programa estruturado de corridas seria ótimo como forma de publicidade e para o desenvolvimento dos carros de rua. Neubauer era homem certo, pela sua capacidade e pela total fidelidade com a empresa.
A Mercedes ser retirou oficialmente das competições em 1929, devido a depressão, mas entregou a Neubauer os modelos SS e SSKL. Sob a sua gestão a equipe conseguiu vitórias importantes, destas talvez a mais emblemática foi na “Mille Miglia” de 1931 com Rudolf Caracciola, este feito fez da Mercedes a primeira marca alemã a vencer a prova italiana.  
Neubauer quase deixou a Mercedes em 1932 para se juntar a Ferdinand Porsche na Auto Union, mas Wilhelm Kissel conseguiu faze-lo mudar de ideia, prometendo fazer a empresa retornar as corridas.
Neubauer e Fangio
Em 1934, com uma equipe reformulada e financiada pelo governo nazista, a Mercedes voltou a se envolver profissionalmente no automobilismo. Juntos, Alfred e a Mercedes-Benz dominaram o automobilismo mundial entre 1934 e 1939, período que ficou conhecido pelo surgimento das “Flechas de Prata” marcando o domínio dos carros de corrida alemão e pela rivalidade com a Auto Union. 
A equipe Mercedes-Benz contou com os maiores pilotos da época: Rudolf Caracciola, Hermann Lang, Manfred von Brauchitsch, e Richard Seaman.
O próprio Neubauer dizia que as “Flechas de Prata” surgiram da necessidade de aliviar o peso dos carros, o limite era 750 kg e os carros novos pesavam 751 kg, então decidiram remover a tinta branca, a cor adotada pelas equipes Alemãs, deixando o alumínio da carroceria exposta. 
Alguns céticos duvidam desta versão, nas regras de então não havia limite de peso e não existem relatos ou fatos do episódio. De fato, Neubauer já era bem conhecido também por ser um “grande” contador de histórias...
Tragédia em Le Mans, 1955
O ciclo de sucesso foi interrompido pela Segunda Guerra Mundial, Alfred foi designado a trabalhar como supervisor geral da manutenção de veículos militares. 
Após o final da guerra a Mercedes-Benz voltou as corridas no começo dos anos 1950, com Neubauer novamente à frente da equipe, venceram a Carrera Panamericana e as 24 horas de Le Mans de 1952 com o modelo 300 SL. 
Em 1954 estreavam no, ainda recente, mundial de F1, no GP da França, em Heims, liquidaram a concorrência com a dobradinha Fangio e Kling no lendário W196. As “Flechas de prata” foram campeãs com Juan Manuel Fangio, em 1954 e 1955.
Infelizmente uma tragédia, a maior de todos os tempos, provocou o final desta carreira extraordinária. Ainda em 1955, durante as 24 Horas de Le Mans, um das 300SL pilotadas por Pierre Levegh se chocou com o Jaguar de Lance Macklin e voou sob a arquibancada, vitimando mais de oitenta pessoas. A Mercedes se retirou imediatamente da prova e das competições ao final daquele ano, Neubauer decidiu se aposentar após ser chefe da equipe Mercedes entre 1926 e 1955.
O grande Stirling Moss, outro dos comandados de Neubauer, dizia que ele era um personagem incrível, tinha grande compreensão das corridas e em momentos de descontração fazia de tudo para a equipe rolar de rir. 
Alfred Neubauer faleceu em Stuttgart, em 22 de agosto de 1980 aos 89 anos. 

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