18/04/2018

All American Racers

Dan Gurney é um cara que fez tanta coisa legal no automobilismo que precisaríamos de um monte de posts para retratar a sua importância, isso ainda vai acontecer, mas agora vamos falar da sua aventura como dono de equipe na F1 e F-Indy (USAC e a CART).
Gurney pilotava na F1 desde o final da década de 1950, em meados dos anos 1960 decidiu unir forças com Carroll Shelby e outros engenheiros e investidores americanos para fundar a AAR ou “All American Racers”. 
Dizem que Gurney foi inspirado pelo sucesso de Jack Brabham e Bruce McLaren com suas equipes próprias, mas não pode ser esquecido que ele teve forte apoio da Goodyear que estava interessada em desafiar o domínio da concorrente Firestone, nas corridas de F-Indy.
A AAR teve uma decisão ambiciosa de entrar no campeonato de F1 e F-Indy simultaneamente, a equipe continuou registrada e baseada nos EUA, mas montou uma subsidiária no Reino Unido chamada “Anglo American Racers”. 
Para ter sucesso nos dois campeonatos, F1 e F-Indy, foi contratado o ex-designer da Lotus, Len Terry, para desenvolver um chassi que pudesse ser usado tanto para circuitos mistos da F1 como em pistas ovais. Terry tinha no currículo o Lotus 38 vencedor do Indianapolis 500 em 1965, o resultado do seu trabalho foi o Eagle MK1, ou T1G, lançado para disputar a temporada de 1966 da F1. 
Nas primeiras quatro corridas na F1 naquela temporada foi utilizado o motor Coventry Climax, de quatro cilindros em linha e 2.7L, depois passaram a utilizar um 3.0L Gurney-Weslake V12. Para a Indy foi projetada a versão Eagle Mk2 para utilizar o motor Ford V8 quad-cam, que havia sido vencedor da Indy 500 no ano anterior (Jim Clark, no Lotus 38).
O projeto tinha forte influência das linhas limpas e elegantes do Lotus 38, além de muitas de suas soluções técnicas: seção central monobloco de alumínio rebitada, componentes da suspensão montados diretamente no monocoque e amortecedores embutidos, entre outros. 
A parceria com a Weslake nasceu da amizade de Gurney com o engenheiro Aubrey Woods, da época que Gurney era piloto da BRM em 1960. Anos mais tarde Woods se mudou para a Weslake Engineering desenvolvendo projetos patrocinados pela Shell, destes projetos nasceu o V12 de 3 litros que gerava aproximadamente 360 CV inicialmente, chegando a respeitáveis 450 CV no final do seu desenvolvimento.
Na Indy 500 de 1966 cinco chassis Mk2 se classificaram com o motor Ford, pois o Weslake V12 ainda não estava disponível, uma pena porque com o V12 o Eagle foi um carro muito competitivo, mas pouco confiável. 
O V12 era um motor de alta rotação, mas foi construído com o uso de ferramentas e máquinas excedentes da Primeira Guerra Mundial, o que trouxe problemas de fabricação e comprometeu a sua durabilidade, além disso houve um erro de projeto no sistema de bomba de óleo que só foi descoberto tarde demais. Esses problemas prejudicaram bastante os resultados do Eagle.
Apesar de novata, a equipe mostrou capacidade técnica notável para evoluir o MK1, os três primeiros chassis foram produzidos em alumínio, mas já no quarto foram incorporadas ligas metálicas avançadas, como o uso extensivo de titânio e folhas de magnésio no painel monocoque. Gurney estava bem ciente dos riscos envolvidos, pois eram materiais muito inflamáveis (vale lembrar a morte de Jo Schlesser no GP da França de 1968, após seu carro explodir em uma bola de fogo de magnésio).
Alem de Gurney, a equipe de F1 teve outros pilotos notáveis ao volante, o campeão de 1961 o americano Phil Hill, Richie Ginther, Ludovico Scarfiotti e Bruce McLaren. 
Em 1968 a equipe passou a enfrentar problemas financeiros que limitaram o desenvolvimento dos carros, o motor era caro e problemático, aos poucos não houve alternativa a não ser encerrar a operação na F1 no final da temporada, restando as operações nos campeonatos americanos até o início dos anos 1970.
Os melhores resultados de um Eagle-Weslake Mk1 na F1 foram mesmo em 1967, com as vitórias no GP da Bélgica e na corrida dos campeões em Brands Hatch, ambas com o próprio Dan Gurney. Parece pouco, mas Gurney ainda é um dos três únicos pilotos a vencer um GP de Fórmula 1 com um carro de construção própria. A vitória na Bélgica em 1967, até hoje, é a única vitória oficial na F1 de um carro americano.
Este carro pode não estar entre os maiores vencedores das pistas, mas frequentemente é considerado como um dos mais belos de todos tempos! 
As operações da "All American Racers" na F-Indy permaneceram até 1986, retornaram em 1996 com 2 carros, com Juan Manuel Fangio II e P. J. Jones, para participar da Indy 500 e do restante do campeonato. O chassis era um Eagle-Toyota-Goodyear patrocinado pela Castrol, o carro ficou mais conhecido pelo visual, tinha uma águia desenhada no bico, do que pelos resultados. O melhor resultado no ano foi um oitavo lugar de Fangio II, em Elkhart Lake, marcaram apenas nove pontos.
Para 1997 foram mantidos os pilotos, motor e patrocínio, mas se renderam aos problemas do chassis e usaram um Reynard. O desempenho continuou modesto, marcando apenas 12 pontos com os dois pilotos.
Em 1998, Jones seguiu na equipe e Alex Barron e Vincenzo Sospiri se revezaram no outro carro, o resultado final foi muito ruim fechando em 29º lugar.
A equipe estava com graves problemas financeiros na temporada seguinte, diversos pilotos como Alex Barron, Gualter Salles, Raul Boesel e Andrea Montermini se revezaram ao volante, mas sem muito destaque.
Sem condições de participar da temporada de 2.000, Dan Gurney decidiu encerrar de vez as operações da equipe.
Pilotos da Fórmula 1
Estados Unidos, Dan Gurney (1966-1968)
Estados Unidos, Phil Hill (1966)
Estados Unidos, Bob Bondurant (1966)
Estados Unidos, Richie Ginther (1967)
Nova Zelândia, Bruce McLaren (1967)
Itália, Ludovico Scarfiotti (1967)
Canadá, Al Pease (1967-1969)
Pilotos da CART
Estados Unidos, Mike Mosley (1979–1981)
Austrália, Geoff Brabham (1981)
Estados Unidos, Rocky Moran (1981)
Estados Unidos, Pete Halsmer (1984)
Estados Unidos, Mike Chandler (1982, 1984)
Estados Unidos, Kevin Cogan (1984–1985)
Estados Unidos, Ed Pimm (1984–1985)
Holanda, Jan Lammers (1986)
Argentina, Juan Manuel Fangio II (1996–1997)
Estados Unidos, P. J. Jones (1996–1998)
Estados Unidos, Alex Barron (1998–1999)
Itália, Vincenzo Sospiri (1998)
Brasil, Raul Boesel (1999)
Brasil, Gualter Salles (1999)
Itália, Andrea Montermini (1999)
Resultados da equipe na F1
Grandes Prêmios: 30 (GP da Bélgica, 1966 até GP do México, 1968)
Vitórias: 1 GP Bélgica, 1967
Pole Position: 0 
Voltas rápidas: 1
Pontos: 17

15/04/2018

Ed Iskenderian

Por volta de 1910 a família armênia Iskenderian migrou para os Estados Unidos, estavam fugindo de conflitos na Turquia e acabaram se estabelecendo no norte da Califórnia, onde começaram a cultivar uvas para a indústria vinícola da região. Em 1921, em Tulare, nascia o filho Ed destinado a ser um enólogo no futuro, porém, para a nossa sorte os céus tinham outros planos para ele...
Após geadas pesadas destruírem suas plantações, a família mudou-se para Los Angeles onde começaram a vender sapatos. Ed frequentou a “Polytechnic High School”, em Los Angeles, onde aprendeu mecânica e fez o seu primeiro projeto um roadster Ford Model T, se especializando em customização de motores.
Depois de se formar começou a trabalhar como aprendiz de mecânico, adquiriu habilidade e experiência, desde o começo de sua carreira chamava atenção pelos seus esforços pela qualidade e perfeição. 
Por volta de 1933, Ed começou a frequentar os lagos secos da Califórnia para ver os amigos correrem. Hoje ele explica que na época não havia revistas de carros ou muita literatura técnica disponível, por isso teve que aprender com os colegas mais velhos, na prática, daí a sua grande admiração e amizade por Ed Winfield. 
Em 1939, Ed Iskenderian começou a ajudar um jovem piloto da Flórida chamado Don Garlits, foi o primeiro patrocínio corporativo para uma equipe de corrida, nesta época que ele recebeu o apelido de “Isky” o "Camfather". 
Em 1942, Ed atingiu 120 mph no lago seco em El Mirage com um hot rod, mas veio a Segunda Guerra Mundial e interrompeu a sua carreira. Ed decidiu se alistar no “Army Air Corps”, servindo no Comando de Transporte Aéreo no Pacífico. Após a Guerra Ed voltou para as corridas, mas nesta época eram comuns dificuldades com fornecedores e recebimento de peças, foi então que decidiu começar a produzir os seus próprios virabrequins (árvores de cames).
Utilizando sua experiência na fabricação de ferramentas, Ed conseguiu converter uma máquina universal em uma retifica para produzir virabrequins.
Iskenderian começou a vender seus produtos através de anúncios na revista Hot Rod, estava feliz vendendo em torno de 5 unidades por semana faturando US$20,00! 
Logo, passou a vender para as “speed shops” e meses depois recebeu o contato de um homem da Carolina do Norte que participava de um campeonato novo, organizado por uma tal de NASCAR. Haviam interessados em peças para motores Ford V8 “flathead” e a partir daí o seu negócio decolou. A Iskenderian saiu de 2 funcionários para cerca de 60 pessoas poucos meses depois, Isky sempre teve receio de que algum engenheiro copiasse seus projetos, mas na prática ninguém conseguia superar a sua experiência prática.
No final dos anos 1950 a empresa de Ed foi a pioneira na utilização de computadores no design dos virabrequins, os seus “5-Cycle” e “Polydyne Profile 505 Magnum” tornaram-se famosos, a “Isk Racing Cams” também foi pioneira na utilização virabrequins hidráulicos nas corridas.
Apesar de estar focado nas corridas, Isky nunca deixou de dar atenção para as ruas e os entusiastas, em 1963, ele e outros pioneiros da indústria, criaram a "Speed Equipment Manufacturers Association", depois conhecida como "Specialty Equipment Market Association" ou simplesmente "SEMA". Ed foi o seu primeiro presidente nos anos de 1963 e 1964, que foram considerados cruciais para o estabelecimento da indústria de customização. 
Talvez, nem em seus melhores sonhos, Isky nunca teria imaginado que a SEMA chegaria onde chegou. Sorte nossa de novo!
Com a mudança do mercado que passou a dar valor para economia além do desempenho, novas linhas de comandos de válvulas foram lançadas como as “SuperCams” e as “MegaCams”. 
Com mais de 90 anos de idade Ed ainda continua em atividade, mas passou o controle das operações para os seus filhos Ron e Richard, a sua empresa continua sediada em Gardena, Califórnia, empregando mais de 100 especialistas e oferecendo comandos de válvulas para carros de corrida em categorias ovais, off road, drag racing, monster trucks, carros de rua e barcos. Isky também é autor de centenas de artigos técnicos sobre preparação mecânica. 
Por suas importantes contribuições para a indústria automotiva e de hot rod recebeu muitos prêmios e reconhecimento, em 1985 ele foi indicado como membro do "Legends of Performance" da Chevrolet, foi introduzido no hall da fama da SEMA, em 2012 Iskenderian recebeu o prêmio "Robert E. Peterson Lifetime Achievement", no “Hot Rod & Restoration” em Indianapolis.
Definitivamente, o nome Ed Iskenderian é uma lenda entre os pilotos e entusiastas de todo o mundo.

07/04/2018

BMW Art Car

Para a galera deste blog carros (e motos, barcos, etc) são obras de arte, ponto final, não tem muita dúvida ou discussão.
A BMW levou esse assunto às vias de fato com o seu projeto “BMW Art Car”.
O projeto começou em 1975 através de uma ideia do leiloeiro e piloto francês Hervé Poulain, ele iria participar das 24hs de Le Mans daquele ano com um BMW 3.0 CSL e chamou o seu amigo e artista americano Alexander Calder para pintar o carro.
O resultado, da pintura de Calder e não da corrida de Poulain, foi um sucesso e com o apoio da BMW foi continuado. Em 1976 foi a vez do artista nova-iorquino Frank Stella, depois uma série de trabalhos de artistas pop: Roy Lichtenstein, Andy Warhol e Robert Rauschenberg. 
FRANK STELLA
As obras de arte são bem diversificadas, indo do impressionismo e surrealismo até a pop art, fazendo uma bela junção entre o mundo dos carros e o mundo das artes.
Obras de arte são feitas para se apreciar em alguma parede de museu?  
Nada disso! 
Os carros de corrida sempre acabam participando de alguma corrida tradicional, como as 24 horas de Le Mans ou 24 horas de Daytona, alguns deles até tiveram bons resultados.
ROY LICHTENSTEIN
Em mais de 30 anos de projeto tivemos 19 artistas notáveis participando do BMW Art Car, não considerando a obra não oficial de Frank Stella no BMW M1 Procar para o piloto de Peter Gregg em 1979, os artistas sempre são escolhidos por um painel de juízes internacionais.
ANDY WARHOL
Desde 2004 o gerente cultural Thomas Girst comanda o projeto, ele explica que no começo não havia muita preocupação com a divulgação como forma de arte, mas com o tempo isso mudou e deixou de ser apenas uma forma de publicidade em torno dos produtos BMW, hoje são reconhecidamente obras de artes e alguns trabalhos tornaram-se verdadeiros ícones, como o BMW M1 de Andy Warhol em 1979.
JEFF KOONS
O projeto é divulgado mundialmente através de inúmeras exposições, entre elas podemos citar a turnê nos Estados Unidos de 2009, mostrada em grande cidades como o Museu de Arte de Los Angeles e em Nova York no Grand Central Terminal - Vanderbilt Hall. Também houve uma grande exposição no México em Guadalajara e na Cidade do México no mesmo ano. Em julho de 2012, parte da coleção foi apresentada pelo Instituto de Artes Contemporâneas em Shoreditch como parte do Festival de Londres. 
Além dos carros encomendados pela BMW, outros artistas vendo sendo inspirados a fazer projetos não oficiais, entre eles Walter Maurer, Keith Haring, Christie Chandler e Andy Reiben.
Para saber mais e se impressionar com os carros, veja o site do projeto...

RELAÇÃO DOS ARTISTAS E MODELOS
  • 1975 Alexander Calder (3.0 CSL)
  • 1976 Frank Stella (3.0 CSL)
  • 1977 Roy Lichtenstein (320i Turbo)
  • 1979 Andy Warhol (M1 Group 4)
  • 1982 Ernst Fuchs (635 CSi)
  • 1986 Robert Rauschenberg (635 CSi)
  • 1989 Michael Nelson Jagamarra (M3)
  • 1989 Ken Done (M3 Group A)
  • 1990 Matazo Kayama (535i)
  • 1990 Cesar Manrique (730i)
  • 1991 A. R. Penck (Z11)
  • 1991 Esther Mahlangu (525i)
  • 1992 Sandro Chia (M3 GTR)
  • 1995 David Hockney (850 CSi)
  • 1999 Jenny Holzer (V12 LMR)
  • 2007 Olafur Eliasson (H2R)
  • 2010 Jeff Koons (M3 GT2)
  • 2016 John Baldessari (M6 GTLM)
  • 2017 Cao Fei (M6 GT3)

03/04/2018

Advertising - Night and Day

Este comercial foi a principal peça da campanha publicitária do lançamento do Fiat Tempra em 1992. Nada demais no carro e no comercial, é mais pela música mesmo... "Night and Day" na versão do U2 gravada em 1990 para o álbum "Red Hot And Blue" .
Neste ponto a Fiat escolheu certo, afinal a música foi feita por Cole Porter em 1932 para o musical "The Gay Divorce", depois foi interpretada por Fred Astaire, Bill Evans, Art Tatum, Billie Holiday, Frank Sinatra, Dionne Warwick, Ella Fitzgerald, Shirley Bassey, Ringo Starr, Sondre Lerche, Doris Day, Charlie Parker, Deanna Durbin, Jamie Cullum, Etta James, só gente da pesada.