Nos primeiros anos do século 20 o radiador era o
local preferido pelas fábricas para colocar o emblema da marca, poderia ser na
grade, na parte superior ou na tampa. Muitos clientes também gostavam de criar
alguma forma de distinção e faziam suas próprias “criações artísticas”. Não
podemos esquecer que nesta época o automóvel não era considerado apenas um
“meio de transporte”, era muito mais um símbolo de status ou diversão para
poucos afortunados.
Os primeiros modelos da Rolls-Royce utilizavam
apenas o emblema da marca na parte superior do radiador, mas logo entenderam
que só isso não seria suficiente para agregar prestígio e distinção aos seus
clientes, era necessário reforçar a imagem de luxo e sofisticação.
A resposta veio com o famoso adorno de radiador com
uma figura feminina de prata, o “Spirit of Ecstasy”, também chamado de
"Emily", "Silver Lady" ou "Flying Lady".
Poucos sabem, no entanto, que a lady de prata guarda
a história de um amor secreto entre um nobre e uma plebeia, história que
permaneceu praticamente oculta por mais de uma década, exceto por um pequeno
circulo de amigos.
John Walter Edward Douglas-Scott-Montagu, o segundo
Barão Montagu de Beaulieu, em 1905 era um pioneiro do movimento do automóvel
e editor da revista “Car Illustrated”. O barão tinha uma secretária de
22 anos chamada Eleanor Velasco Thornton, também conhecida como Thorn, eles se
apaixonaram quando ela trabalhava para ele na revista.
Muitos justificam que a razão para a relação ter ficado
em segredo foi a situação social e econômica de Eleanor, ela vinha de uma
família muito pobre e uma relação com um nobre não era bem aceita pela sociedade
da época. Mas, provavelmente, a razão verdadeira foi outra, pois o Barão Montagu
era casado com Lady Cecil Victoria Constance Kerr desde 1889...
Para eternizar o seu amor o Barão Montagu
encomendou ao escultor e amigo Charles Robinson Sykes, graduado no “Royal
College of Art de Londres” e que trabalhava em Londres com patrocínio do nobre,
um adorno personalizado para o capô de seu Rolls-Royce Silver Ghost, 1910.
Sykes escolheu, ou foi aconselhado, a utilizar
Eleanor Thornton como seu modelo. A estatueta foi desenhada com roupas
esvoaçantes e a mão nos lábios sendo chamada “The Whisper” (O sussurro), hoje
está em exposição no Museu Nacional Motor em Beaulieu. Apenas três ou quatro
peças foram fundidas e destas acredita-se que apenas duas sobreviveram.
Na mesma época a Rolls-Royce estava preocupada com
alguns proprietários que estavam criando ornamentos "inapropriados"
para seus carros. Claude Johnson, então diretor executivo da marca, foi
encarregado de buscar um novo adorno mais digno e gracioso para tornar-se uma
marca genérica da Rolls-Royce.
Johnson também fez uma encomenda para Sykes, com as
especificações que deveriam transmitir "o espírito da Rolls-Royce”, ou
seja, a “velocidade com o silêncio, ausência de vibração, aproveitamento
misterioso de grande energia e um organismo vivo bonito de excelente graça...".
Charles Sykes mostrou algumas ideias para Claude
Johnson, mas os resultados não impressionaram. Foi então que Sykes sentiu que
uma representação feminina seria mais apropriada e decidiu modificar “The
Whisper”. O primeiro modelo foi chamado de “O Espírito de velocidade”, mais
tarde “Spirit of Ecstasy”.
Henry Royce, um dos fundadores da marca, no início achou
que a estatueta não iria agregar nada aos carros, na verdade afirmava que
prejudicava a visão do motorista, mas em 06 de fevereiro 1911 foi finalmente
apresentado para a Rolls-Royce o "Spirit of Ecstasy", não era difícil
notar a semelhança com o "The Whisper”, afinal ambas as obras utilizaram a
mesma modelo.
Entre 1911 até 1914 o adorno era prateado feito com
níquel ou liga de cromo para não incentivar roubos, apesar de ser considerado
um acessório quase todos os modelos adotavam até virar um item de série no
começo dos anos 1920. A Rolls-Royce assumiu a fundição das figuras em 1948, até
1951 a fábrica manteve a inscrição com o nome do artista.
Ao longo de sua história o desenho teve onze
variações, principalmente em função das mudanças nas carrocerias que levaram a
reduções no tamanho da mascote. Em 1930 Sykes foi novamente encarregado pela
fábrica de criar uma versão menor para permitir uma visão mais clara para os
motoristas. Então em 26 de Janeiro 1934 foi apresentada uma versão agachada,
mas depois voltou a posição original e assim permanece até hoje.
A partir de 2003 foi adotado um modelo padrão de 3
polegadas, por segurança o adorno passou a ser montado sobre um mecanismo de
mola projetado para retrair instantaneamente se for atingido de qualquer
direção. Também existe um botão no painel para aumentar ou diminuir a altura do
emblema quando pressionado.
Como ícone da sofisticação da marca, ela pode ser
feita de aço inoxidável polido, banhado a ouro com 24 quilates ou de cristal
fosco iluminado, também existem versões personalizadas em uma pintura preta
fosca ou cravejado em diamantes.
Mas, como finalizou a história de amor entre Eleanor
e o Barão Montagu? Infelizmente de modo
trágico, ela morreu em 30 de dezembro 1915 no naufrágio do navio SS Persia,
torpedeado por um submarino alemão ao sul de Creta. Eleanor voltava de uma viagem com
Lord Montagu, que assumira um comando na Índia durante a primeira guerra
mundial. Ele também foi dado como morto, mas sobreviveu após vários dias à
deriva em um bote salva-vidas.
Apesar de tudo, seu amor foi eternizado, o Barão
Montagu atingiu o seu desejo.
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