16/03/2014

A Fábrica que tinha uma pista de testes no telhado!

(Eu já tinha lido algo sobre esta história, mas sinceramente já não me lembrava mais.  Ainda bem que o JORIS MORELLI mandou esta dica, o crédito deste post é exclusivo do Joris, grande amigo e brilhante engenheiro mecânico).

Você sabia que uma das fábricas da FIAT na Itália tinha uma PISTA DE TESTES NO TELHADO?
Toda vez que ouço ou leio a expressão “curva parabólica”, logo me vem à mente o antigo traçado de Monza e sua famosa curva inclinada (se não entenderam assistam ao filme “Grand Prix” de 1969, o melhor filme sobre automobilismo feito até hoje, fica a dica).
Quando a Primeira Guerra Mundial acabou a Fiat retomou a fabricação de automóveis e na época detinha 80% do mercado da Itália, a década de 20 chegava com ambiciosos planos de crescimento.
Para isso a Fiat encomendou ao engenheiro Giacomo Mattè-Trucco o projeto de uma nova fábrica que se tornaria o símbolo da indústria italiana e a maior fábrica de automóveis do mundo na cidade de Lingotto. Entre as novidades: uma linha de produção ascendente e uma pista de testes no telhado do prédio!
A obra ficou pronta em 1923 e tinha cinco andares e uma pista de testes em seu teto, com duas curvas parabólicas que ocupava um espaço de 494 metros de comprimento por 85 metros de largura. As curvas da pista foram construídas com uma complexa série de estruturas de concreto, uma técnica que não havia sido utilizada anteriormente, muito menos em uma pista no sexto andar de um prédio...
Esta pista não foi feita por acaso ou por mera extravagância italiana. Ela realmente era parte, na verdade a última etapa, do processo de fabricação dos carros.  
Como a fábrica de Lingotto tinha uma linha de produção em espiral ascendente, em cada andar era feita uma etapa da fabricação, fazendo com que o carro subisse aos poucos pelo prédio.
O que iniciava como punhado de peças e componentes nos andares inferiores chegava ao topo do prédio como um automóvel completo, pronto para ganhar as ruas.  Quando um Fiat terminava seu percurso fabril pelos 1.500.000 m² de Lingotto, ele saia do prédio por uma rampa de acesso ao teto. 
Cada carro percorria então a pista para garantir que o pessoal nos pisos inferiores havia feito seu trabalho corretamente. Assim que aprovado, o carro descia direto para o térreo por uma das duas rampas espirais que saem da pista. A pista de testes se tornou tão famosa quanto a fábrica abaixo dela. Ela até apareceu no filme Um Golpe à Italiana (The Italian Job – 1969, o original e não a refilmagem com a Charlize Theron). Durante a famosa cena de fuga, os três Mini Cooper usados pelos ladrões ficam lado a lado em uma das parabólicas, com o policial em sua cola. 
Se você tem um Fiat italiano produzido entre 1923 e a década de 1970 é provável que ele tenha percorrido seus primeiros quilômetros no último andar de Lingotto. A fábrica foi responsável por boa parte da produção da Fiat desde sua inauguração até a década de 1970, quando suas linhas de produção já estavam defasadas em relação às novas técnicas de fabricação.
A fábrica foi fechada oficialmente em 1982, o último carro a deixar a linha foi um Lancia Delta. Felizmente, pelo menos desta vez, a fúria do capitalismo poupou este prédio e marco da indústria automobilística mundial, após o fechamento da fábrica o prédio foi reformado para ser um gigantesco espaço comercial. 
Seus andares são ocupados agora por um shopping center, um teatro, um centro de convenções e um hotel. A pista no teto permanece intacta e é uma atração turística — você pode alugar um carro e subir os seis andares e dar uma volta pelas retas da pista. 
Demais não?

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