29/12/2016

Secos e Molhados

Qual a diferença entre cárter seco ou úmido? 
Talvez alguns menos avisados possam imaginar que cárter seco não usa óleo (😖!?!?), piada barata! 
Não é bem, como veremos a seguir.
CÁRTER "ÚMIDO": 
É o sistema presente na maioria dos motores, nele o lubrificante (óleo) fica armazenado em um tanque único (cárter) localizado na parte mais baixa do motor.
A circulação deste lubrificante pelas partes internas do motor começa pela captação, ou seja, o que está armazenado no cárter é “pescado” pela bomba de óleo. 
Em seguida esse óleo "pescado" passa por um filtro para evitar levar impurezas aos dutos internos, e então vai circular pelas partes móveis que necessitam lubrificação (pistões, bielas, cabeçotes, etc.). 
A capacidade do cárter normalmente fica entre quatro e seis litros, mas pode mudar dependendo da quantidade de cilindros ou capacidade cúbica do motor. Evidente, por questões da física, nem todas as peças móveis e dutos ficam preenchidos totalmente de óleo a todo o momento, a lubrificação ocorre pela circulação em alta pressão, respingos ou névoa.
As vantagens do sistema “úmido” estão na simplicidade do projeto, se comparado a outros sistemas, no uso de materiais mais baratos e custo mais baixo de engenharia e fabricação, por isso essa é a solução mais comum em motores projetados para condições “normais” de uso.
Por outro lado, não é o sistema mais recomendado para motores de alto desempenho, onde a força G gerada por acelerações fortes, frenagens bruscas e mudanças de direção pode acumular o óleo em apenas um lado do cárter, este acúmulo momentâneo causa perda de pressão do óleo porque o tubo captador não consegue sugar a quantidade suficiente de lubrificante. 
Outros efeitos negativos, o acúmulo de óleo no virabrequim provoca perda potência por arrasto hidráulico, por fim, a espuma gerada nestas situações acaba prejudicando a eficiência do sistema. 
Estes problemas comprometem o desempenho e com o tempo diminuem a durabilidade do motor, se num motor de "uso normal" esses efeitos nocivos demoram anos, num motor de alto desempenho isso tende a ser um grave problema.
CÁRTER SECO: 
Esse é o sistema de lubrificação mais indicado para motores com utilização especial, como motores esportivos de alto giro ou sujeitos a funcionar em posições variadas, como motores de avião. Este sistema começou a aparecer nos anos 1950, desenvolvido pelas montadoras especializadas em motores de alto desempenho como Ferrari e Porsche. 
Nele parte do óleo lubrificante fica armazenado em um tanque localizado fora do motor e o restante no cárter, por isso são utilizadas pelo menos duas bombas de óleo – a bomba de circulação para levar o óleo do cárter para o tanque de armazenamento e a bomba de pressão para receber o óleo do tanque e manda-lo direto para as partes móveis a serem lubrificadas.
A eficiência de lubrificação é muito maior porque o óleo permanece mais tempo no tanque, mantendo a temperatura menor do que dentro do motor. 
Temperatura e movimentos menores ajudam a manter a viscosidade, porque não produz espuma, e sem o acúmulo ao redor do virabrequim porque não há perda de potência pelo arrasto hidráulico.
Existem outras importantes vantagens dinâmicas, não é mais necessário um grande cárter de óleo, assim é possível ter um motor mais baixo e ajudar no centro de gravidade do carro. 
Mas, nem tudo são flores numa comparação direta entre os dois sistemas!
O sistema seco utiliza uma quantidade maior de componentes, por exemplo 2 bombas de oleo, e necessita de materiais mais sofisticados, o que faz ser uma solução mais complexa de se manter e cara.
Alguns "cabeça de gasolina" já devem estar se perguntando: É possível adaptar um sistema "seco" em um motor que utilizada o sistema "úmido"? 
Em teoria sim, tanto que existem alguns kits de adaptação no mercado, mas não são tão populares porque não é uma transformação simples e também é difícil garantir resultados confiáveis. 
Por isso, se for necessário melhorar o sistema de lubrificação de um motor, a opção mais comum é trocar a bomba de óleo original por outra de maior pressão, em alguns casos vale até trocar o cárter original por outro de maior volume.
Então, qual dos dois sistemas de lubrificação é o melhor? 
Com todos essas variáveis citadas não dá para "cravar", um melhor e o outro pior, o que conta mesmo será a utilização a que se destina o motor.

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