14/06/2015

O exército de um homem só!

Estamos na época de mais uma edição da mais fantástica corrida de todos os tempos, as “24 horas de Le Mans”, que neste ano chega a sua 83ª edição. Portanto, época perfeita para relembrar de uma das mais impressionantes histórias do automobilismo.
A tal história ocorreu na edição da corrida em 1952 e envolveu um piloto francês chamado Pierre Levegh. Nascido em 22 de dezembro de 1905 como Pierre Eugene Alfred Bouillin, adotou o codinome “Pierre Levegh” em homenagem ao tio Alfred Velghe que também foi piloto de corrida da França.  
No início da década de 1930, Pierre Levegh começou a participar de algumas corridas e em 1938 participou da sua primeira edição das 24 horas de Le Mans, dividindo um Talbot Lago T150C com o também francês Jean Trévoux. Na verdade, nem chegou a estrear porque o carro quebrou no começo da corrida com Trévoux ao volante. Em 1939 tentou outra vez, mas desistiu novamente antes do final por problemas mecânicos.
As corridas foram interrompidas na Europa em razão dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, com o término da guerra as corridas retornaram aos poucos e Levegh prosseguiu com a sua carreira de piloto. Em 1951 conseguiu um quarto lugar nas 24 Horas de Le Mans, então decidiu que era hora de dar um salto adiante. Para a edição de 1952, Levegh inscreveu com um Talbot-Lago T26 GS Spider com diversas melhorias. A corrida seria realizada nos dias 14 e 15 de Junho, aqui a nossa “história interessante” começa de fato. Com as modificações introduzidas no carro, Levegh acreditava ser capaz de enfrentar de igual os imbatíveis Mercedes 300SL, neste ano ele faria dupla com o estreante René Marchand. Partiriam na sétima posição em um grid de 57 competidores, mas existia um problema com o virabrequim do motor e para complicar a equipe não tinha outra peça para reposição. 
Pierre Levegh foi encarregado de largar e fazer o primeiro turno, ele largou com cautela, aos poucos os adversários diretos, Jaguar e Aston Martins, foram desistindo e Levegh alcançava o segundo lugar, apenas uma volta atrás do Gordini pilotado por Jean Behra e a frente dos três Mercedes.
No meio da noite o motor do carro começou a apresentar alguns barulhos estranhos, nesta época só era possível reparar um carro com as peças que este carregasse, se fosse o tal virabrequim seria fim de sonho. 
Ao fazer o primeiro pit-stop, o intervalo entre as paradas era maior, o companheiro René Marchand estava pronto para entrar no carro, mas Levegh decidiu seguir em frente. René não gostou nada do fato, mas não teve alternativa senão esperar pelo próximo pit-stop.  
Apesar do barulho estranho no motor, Levegh chegava à liderança após o abandono de Behra. Veio a hora do segundo pit-stop no meio da madrugada, lá estava Marchand pronto para assumir o carro e, surpresa, Levegh decidiu seguir adiante! 
Aquela altura o autódromo já estava em polvorosa, afinal um carro francês, com um piloto francês, na corrida mais tradicional na França vencendo a então imbatível Mercedes?!?!? Seria o script perfeito para uma revanche contra a Alemanha, pois a amargura dos dos conflitos da Segunda Guerra eram presentes naqueles anos do pós guerra.
Mas ficava outra pergunta, e esta apavorante; Como alguém sozinho poderia aguentar tanto tempo pilotando sem parar, em uma prova tão desgastante?
Pela manhã Levegh já estava quatro voltas a frente do Mercedes que estava em segundo lugar, o motor seguia barulhento e chegava a hora do terceiro pit-stop. Adivinhem o que aconteceu?
Levegh novamente ser recusou a deixar o carro, até a sua esposa tentou interceder, mas nada o fez passar o volante para o seu companheiro. A esta altura todos já estavam convencidos que Levegh decidira ganhar a corrida sozinho. Seria a glória da França!
Todos no autódromo torciam feitos loucos pela vitória de Pierre Levegh, percebendo o esgotamento do piloto e a situação precária do carro o chefe da equipe Mercedes, o lendário Alfred Neubauer, ordenou para os seus pilotos apertarem o ritmo para induzir Levegh a um erro ou forçar o seu carro até uma quebra. Pelo que se sabe parece que Levegh mordeu a isca, mas o Mercedes que estava em segundo lugar quebrou antes e situação parecia ainda melhor para o francês.
A prova já havia completado 22 horas e 45 minutos, Levegh decidiu poupar o carro porque o segundo colocado estava três voltas atrás e o motor do Talbot cada vez mais barulhento. Uma quebra era cada vez mais provável.
Complemente cansado e sem concentração, ele fazia um traçado irregular na pista e o nervosismo da torcida era total. Foi então que, a menos de uma hora para o fim da corrida, ocorreu a temida catástrofe!
Na entrada de uma curva Levegh deveria engatar a quarta marcha, mas já sem condições físicas e mentais errou e colocou a segunda marcha. Resultado, o motor que já estava em péssimas condições quebrou de vez... 
Consternação total, acabava ali o sonho, ou loucura, de ser o único vencedor solitário da história das 24 Horas de Le Mans. Certamente essa vitória seria lembrada para sempre como a mais espetacular de todos os tempos.Os vencedores da corrida foram Hermann Lang e Fritz Riess com o Mercedes 300 SL, depois Levegh foi bastante criticado na França por ter não ter entregado o carro ao seu companheiro de equipe. 
O desempenho de Levegh impressionou tanto o chefe da Mercedes, Alfred Neubauer, e este decidiu contrata-lo. Em 1953 e 1954 Levegh voltou a Le Mans competindo pela equipe Mercedes, mas ele não foi bem. 
Em 1955 estaria a bordo de um dos 300 SLR, em dupla com o americano John Fitch, Levegh aos 49 anos achava que desta vez seria o seu ano decisivo. De fato acabou sendo, mas infelizmente, de modo muito trágico. 
Após epopeia de 1952 os organizadores da ACO (Automobile Club de l’Ouest) determinaram que um piloto poderia pilotar no “máximo” 18 horas, atualmente o regulamento determina 14 horas em turnos consecutivos de no máximo 4 horas. O que convenhamos, ainda é uma maratona...

24/05/2015

Evolução da Aviação através das cabines!

Nem só de carros e motos vive este blog; Tem motor? Então está valendo!
Este post mostra uma interessante viagem pela evolução destes 100 anos de aviação, vista através das cabines.  
(Contribuição do Joris Morelli, nosso grande amigo e um fanático por aviões)







21/05/2015

Playlist Route 66 - Time Machine

A banda é de Flint, Michigan, uma cidade que fica mais de 270 milhas de Chicago, Illinois, que é uma das pontas da rota 66.
Mas, temos que reconhecer que este som tem tudo haver com o espírito de uma "longa" viagem...
(este vídeo não é das antigas, mas pelo menos o som está melhor)


Well, hey there, baby, do you want to make the scene?
I said a-hey there, baby, do you want to make the scene?
Awww, well, come on over, baby, step into my time machine.

You better jump into my action, I'm gonna' make you feel right.
Awww, jump into my action, I'm gonna' make you feel right.
Don't worry 'bout tomorrow 'cause I'm gonna' love you tonight.

Step into the front row, I'm gonna' show you how.
Step into the front row, I wanna' show you how.
Don't worry 'bout no time we can always come back to right now.

Awww, I'm gonna' give it to you ...

When you wanna' come back, we just turn about.
When you wanna' come back, we just turn about.
But we ain't gonna' come back, 'till there ain't no doubt.

Now don't it get good to you? Do you know what I mean?
Now don't it get good to you? Don't you know what I mean?
Well, come on over, baby, jump into my time machine.

05/05/2015

Alfred Neubauer

Neubauer ao volante com Ferdinand Porsche
No mundo das corridas o destaque normalmente é reservado para os pilotos, seja pela coragem, técnica ou até carisma pessoal. Neste contexto, achar alguém que tenha se imortalizado não sendo piloto é  incomum, sendo um “chefe de equipe” então é mais difícil ainda...
Esta constatação nos ajuda a entender o tamanho da importância que Alfred Neubauer tem na história do automobilismo mundial.
Nascido a 29 de março de 1891, em Neutitschein, uma cidade da região de Morávia-Silésia na atual republica Tcheca, era conhecido pela família e amigos como Friedl. 
Alfred começou o seu envolvimento com carros como mecânico de veículos militares, servindo ao exército Imperial Austríaco durante a primeira Guerra Mundial.
Com término da Primeira Guerra, Alfred começou a trabalhar para o fabricante austríaco de automóveis Austro-Daimler e lá conheceu um cara chamado Ferdinand Porsche, que o nomeou como piloto de testes. Em 1922, Alfred chegou a participar de algumas corridas como piloto, mas sem obter sucesso. 
Ferdinand Porsche foi trabalhar para a Daimler em Stuttgart, em 1923 (lembrando que a Daimler-Benz foi fundada em 1926) e não tardou em levar Neubauer para trabalhar com ele. 
Porsche logo percebeu que Alfred não tinha talento com piloto e lhe ofereceu o cargo de gerente de equipe de corrida (Rennleiter), dizem que a esposa de Neubauer dizia que ele “dirigia como um vigia noturno”! 
A nomeação foi curiosa, pois o automobilismo estava em estágio embrionário e até então não existia este cargo no mundo das corridas. 
Mas, foi no comando da equipe Mercedes que Alfred se revelou um líder excepcional. Ele não projetava ou pilotava, mas aplicava um padrão de organização quase militar na equipe, sendo perfeccionista ao extremo, tinha grande conhecimento técnico e habilidade tática. Foi o primeiro a se preocupar a “enxergar e entender” o desenvolvimento de uma corrida com um todo, sempre dirigindo a equipe com mão de ferro.
Na época era comum o piloto e a equipe não saber a sua posição ao final de uma corrida, mas Neubauer já entendia que poderia alcançar o potencial máximo de carro e piloto estabelecendo uma forma de comunicação durante a corrida. 
Foi ele quem criou o primeiro sistema com bandeiras e placas para informar as posições e passar as orientações básicas aos pilotos, quando estreou o sistema em 1926 em Solituderennen, o chefe dos comissários exigiu que ele se retirasse da pista, pois estava irritando os outros pilotos com suas “palhaçadas”. Alfred também fazia os mecânicos treinarem pit stops por horas a fio, isso em 1926!
Para sua sorte, o presidente da empresa na época, Wilhelm Kissel, era um entusiasta das corridas e deu total atenção as ideias de Neubauer. Kissel também enxergou que um programa estruturado de corridas seria ótimo como forma de publicidade e para o desenvolvimento dos carros de rua. Neubauer era homem certo, pela sua capacidade e pela total fidelidade com a empresa.
A Mercedes ser retirou oficialmente das competições em 1929, devido a depressão, mas entregou a Neubauer os modelos SS e SSKL. Sob a sua gestão a equipe conseguiu vitórias importantes, destas talvez a mais emblemática foi na “Mille Miglia” de 1931 com Rudolf Caracciola, este feito fez da Mercedes a primeira marca alemã a vencer a prova italiana.  
Neubauer quase deixou a Mercedes em 1932 para se juntar a Ferdinand Porsche na Auto Union, mas Wilhelm Kissel conseguiu faze-lo mudar de ideia, prometendo fazer a empresa retornar as corridas.
Neubauer e Fangio
Em 1934, com uma equipe reformulada e financiada pelo governo nazista, a Mercedes voltou a se envolver profissionalmente no automobilismo. Juntos, Alfred e a Mercedes-Benz dominaram o automobilismo mundial entre 1934 e 1939, período que ficou conhecido pelo surgimento das “Flechas de Prata” marcando o domínio dos carros de corrida alemão e pela rivalidade com a Auto Union. 
A equipe Mercedes-Benz contou com os maiores pilotos da época: Rudolf Caracciola, Hermann Lang, Manfred von Brauchitsch, e Richard Seaman.
O próprio Neubauer dizia que as “Flechas de Prata” surgiram da necessidade de aliviar o peso dos carros, o limite era 750 kg e os carros novos pesavam 751 kg, então decidiram remover a tinta branca, a cor adotada pelas equipes Alemãs, deixando o alumínio da carroceria exposta. 
Alguns céticos duvidam desta versão, nas regras de então não havia limite de peso e não existem relatos ou fatos do episódio. De fato, Neubauer já era bem conhecido também por ser um “grande” contador de histórias...
Tragédia em Le Mans, 1955
O ciclo de sucesso foi interrompido pela Segunda Guerra Mundial, Alfred foi designado a trabalhar como supervisor geral da manutenção de veículos militares. 
Após o final da guerra a Mercedes-Benz voltou as corridas no começo dos anos 1950, com Neubauer novamente à frente da equipe, venceram a Carrera Panamericana e as 24 horas de Le Mans de 1952 com o modelo 300 SL. 
Em 1954 estreavam no, ainda recente, mundial de F1, no GP da França, em Heims, liquidaram a concorrência com a dobradinha Fangio e Kling no lendário W196. As “Flechas de prata” foram campeãs com Juan Manuel Fangio, em 1954 e 1955.
Infelizmente uma tragédia, a maior de todos os tempos, provocou o final desta carreira extraordinária. Ainda em 1955, durante as 24 Horas de Le Mans, um das 300SL pilotadas por Pierre Levegh se chocou com o Jaguar de Lance Macklin e voou sob a arquibancada, vitimando mais de oitenta pessoas. A Mercedes se retirou imediatamente da prova e das competições ao final daquele ano, Neubauer decidiu se aposentar após ser chefe da equipe Mercedes entre 1926 e 1955.
O grande Stirling Moss, outro dos comandados de Neubauer, dizia que ele era um personagem incrível, tinha grande compreensão das corridas e em momentos de descontração fazia de tudo para a equipe rolar de rir. 
Alfred Neubauer faleceu em Stuttgart, em 22 de agosto de 1980 aos 89 anos.