18/02/2016

The Outlaws


Nos Estados Unidos a A.M.A. (American Motorcycle Association) define regras de comportamento e conduta para Moto Clubes associados, isso foi um esforço para brecar a escalada de violência associada aos MC durante os anos 1960 e 1970, os clubes que não seguem estas regras são considerados como “outlaws”. Essa proximidade de nomes e conduta reforçou a fama de um dos mais antigos grupos de motociclistas em atividade, o “The Outlaws Motorcycle Club”. 
A reunião inaugural para criação do “McCook Outlaws Motorcycle Club” aconteceu em 1935 no Matilda´s Bar que ficava na antiga Rota 66 em McCook, um subúrbio do sudoeste de Chicago, Illinois. O MC atravessou o período da Segunda Guerra Mundial sem grandes atividades, após o término do conflito grande parte de seus membros passou a ser formada por ex-combatentes que buscavam recuperar a motivação pela vida e superar os traumas pós-guerra. 
Em maio de 1946 foi realizado um grande evento no Soldier Field, em Chicago, que marcou o "renascimento" do clube.
Ao longo de sua história os “Outlaws” desenvolveram grandes rivalidades com outros MC e em especial com os seus arquirrivais os “Hells Angels”. Os membros dos Outlaws usam bastante a expressão “ADIOS” cujo real significado não é “adeus” em espanhol, mas “Angels Die In Outlaw States". Tal quais os “Hell Angels” os “Outlaws” também tem seu lema: "Deus perdoa, Outlaws não", dispensa comentários...
Em 1950 o clube saiu de McCook para Chicago e decidiram mudar o nome de "McCook Outlaws" para "Chicago Outlaws". O logotipo do clube era uma motocicleta alada e foi alterado para uma pequena caveira com o nome do clube estampados com letras no estilo Old English. Em 1954 foram adicionados pistões cruzados reforçando o espírito fora da lei do grupo, uma versão final foi redesenhada em 1959.
Em 1964 os "Gipsy Outlaws" no estado de Milwaukee tornaram-se o segundo capitulo oficial do clube, em julho de 1967 era criado o primeiro capítulo na Flórida, não se sabe ao certo o número de membros ativos dos diversos capítulos dos "Outlaws", mas parece que número de associados não é o que define a relevância e atitude do grupo. 
Tradicionalmente o clube só aceita homens e as motocicletas tem que ser de fabricação americana, com cilindrada mínima, mas na Europa são aceitas motocicletas de outras marcas, desde que com o estilo correto. 
Fora dos Estados Unidos os “Outlaws” tem presença marcante em países como Nova Zelândia, Russia, Japão e diversos países da Europa. No Reino Unido os “Outlaws” surgiram com a junção de diversos MC menores em 1992, mas o capítulo da França é considerado o primeiro capítulo oficial aberto na Europa em 1993. Hoje os “Outlaws” se tornaram o maior MC no Reino Unido, com mais membros do que os “Hells Angels” local.
A proximidade com o crime e os excessos também foi marcante na história do grupo.
O FBI chegou a colocar o líder mundial dos “Outlaws” Taco Bownan como um dos dez mais procurados fugitivos do FBI. Bowman está na prisão desde 1999 acusado por três assassinatos, ele foi preso quando agentes federais e a SWAT invadiram a sede do grupo em Daytona Beach, Flórida, à procura de drogas, armas e contrabando.
Em 2007 Frank Rego Vital da cidade de Roberta, Georgia, membro dos “Outlaws” foi baleado e morto por dois membros do “Renegades MC” em um tiroteio no estacionamento de um clube de strip. Já em Chicago em 2008 a sede dos “Outlaws” foi invadida por agentes do FBI e uma equipe da SWAT, que utilizou até veículos blindados na invasão.
Em agosto de 2009, 15 membros do capítulo "Outlaws Philadelphia" foram presos por tráfico de drogas, entre os presos estavam alguns líderes do grupo Thomas "The Boss" Zaroff Jr. e Charles "Panhead" Rees. 
Em julho de 2012 os US Marshalls invadiram a sede de Indianópolis e prenderam 42 membros acusados de crimes como fraude postal e lavagem de dinheiro. 
Esses são só alguns exemplos, ocorreram muitos outros casos de violência e condenações em vários capítulo nos Estados Unidos e em outros países, em novembro de 2008 no Reino Unido, sete membros do capítulo de Warwickshire foram condenados à prisão perpétua por assassinato.
Polêmicas a parte, em 2005 o “Outlaws MC” celebrou o seu 70º aniversário, hoje os “Outlaws” continuam como um dos maiores clubes da motocicleta em todo o mundo, um dos “Big four” como explicamos aqui...

17/02/2016

Carrozzeria Scaglietti

Acho que já ficou evidente a preferência deste blog pelo design italiano de carros, já falamos um pouco disso aqui, aqui e aqui. Agora vamos falar de outro gênio do design e de sua empresa de criação de sonhos, Sergio Scaglietti e a sua Carrozzeria Scaglietti.
Sergio nasceu em Modena em 9 de Janeiro de 1920 e desde criança era fascinado por carros, apenas após a morte de seu pai, em 1933, encontrou trabalho em um fabricante de carrocerias. 
Em 1939 conheceu Enzo Ferrari e ali começava uma profunda relação profissional e de amizade entre Sergio e Enzo e suas empresas. Naquela época Enzo era proprietário da promissora “Scuderia Ferrari” e ainda corria com carros da Alfa Romeo.
O encontro entre os dois foi uma daquelas obras do acaso, um acaso que mudou a história dos automóveis. O encontro ocorreu na oficina onde Scaglietti trabalhava como funileiro e prestava serviços para a Ferrari, certa ocasião Scaglietti fez várias mudanças em um Alfa Romeo de 12 cilindros da equipe, deixando suas linhas mais aerodinâmicas e futuristas. Ferrari ficou fascinado e começou a recomendar o trabalho de Scaglietti para outros pilotos e equipes.
Ferrari 250 Monza
Em 1947 a Ferrari passou a fabricar suas próprias carrocerias para os seus carros e a parceria com Scaglietti se fortaleceu, o primeiro trabalho desta fase foi o 500 Mondial. Os negócios prosperaram e em 1951 era fundada a Carrozzeria Scaglietti. 
Nesta época Scaglietti atendia praticamente com exclusividade à casa de Maranello, os modelos desenhos exclusivamente por eles recebiam o logo Scaglietti & C e os projetos de outros studios executados por eles não tinham nenhuma menção, por muito tempo grandes projetos da Ferrari foram construídos por Scaglietti a projetados por PininFarina.
Ferrari 250 Testa Rosa
Em 1959 os filhos de Scaglietti, Oscar e Claudio, começaram a trabalhar na empresa do pai. A parceria com a Ferrari continuou até 1975 quando a Ferrari adquiriu a participação majoritária da Carrozeria. Ao longo da história, dos anos 1950 até 1970, a Carrozzeria Scaglietti participou dos mais importantes modelos Ferrari e até de algumas outras marcas. 
A lista de projetos é impressionante:

  • 1955 Ferrari 410 Sport, Ferrari 500 Mondial Series II, Ferrari 250 GT Tour de France (apenas construção da carroceria)
  • 1954 Ferrari 750 Monza
  • 1956 Ferrari 290 MM, Ferrari 860 Monza
  • 1957 Ferrari 250 California Spider (co-participação)
  • 1958 Ferrari 250 Testa Rossa
  • 1959 Chevrolet Corvette Scaglietti Coupe
  • 1962 Ferrari 250 GTO (co-participação)
  • 1968 Ferrari 365 Daytona (co-participação)
Em 1997 a Ferrari decidiu incorporar a marca nos modelos dos seus carros, mas em 2003 veio a maior homenagem quando foi lançado o modelo 612 chamado de Ferrari 612 Scaglietti, o projeto foi inspirado no modelo 375 MM que foi outra criação de Sergio na década de 1950.
Scaglietti morreu em sua casa Modena em 20 de Novembro de 2011, apesar da marca não estar sendo tão explorada, talvez por questões comerciais,  as suas criações ou verdadeiras obras de arte estão eternizadas.

13/02/2016

Bill France Sr (Parte 1)

Nascido em Washington D.C. em 26 de setembro de 1909, Willian Henry Gate France (ou Bill France Sr) poderia ter seguido os passos do seu pai, um contador no Park Savings Bank, mas o fascínio pelos automóveis o levou a outros caminhos..
Começou trabalhando em diversas oficinas até conseguir ter o seu próprio negócio, aos poucos construiu uma boa reputação na capital ao ponto de ter diversos políticos e burocratas como clientes.
Em 1934 para escapar da grande depressão decidiu mudar-se com a família para o sul (com apenas US$25,00 no bolso), após dois dias de viagem eles chegavam à cidade de Daytona Beach. Até hoje existe polêmica neste episódio, alguns dizem que o seu destino era outro e acabou ficando em Daytona porque o seu carro quebrou, outros sustentam que esse era mesmo o seu plano. 
Na verdade, Bill France nunca admitiu que o seu carro quebrou, afinal ele era um ótimo mecânico e isso não cairia bem...
France começou trabalhando na Florida como pintor de casas, em seguida trabalhou em oficinas locais até conseguir montar a sua própria oficina. Coincidência ou não, a história mostrou que não haveria lugar melhor para Bill France se estabelecer.
A região de areias firmes e suaves, entre as cidades de Daytona Beach e Ormond Beach, era onde se realizavam provas de recordes de velocidade desde 1902, naquela época já se atingiam velocidades próximas de 300 milhas por hora.
Mas, partir de 1935, aos poucos a estrutura de Bonnevile Salt Flats, Utah, começou a tomar o brilho de Daytona Beach levando grandes corredores, entre eles Sir Malcom Campbell, a abandonar as areias do sul e rumar para as planícies de sal no oeste.
Preocupado em resgatar o prestigio da cidade e apoiado pelas autoridades locais, France e o piloto/empresário local Sig Haugdahl resolveram organizar uma prova de “dirt track” em uma pista de 3,2 milhas, o traçado incluía um trecho na reta da estrada A1A e outro trecho em sentido contrário aproveitando a praia. A corrida ocorreu em 8 de março de 1936, “teria” 250 milhas e prêmios de US$5.000,00 (US$1.700,00 apenas para o vencedor).
A corrida "teria" 78 voltas, mas atraiu uma multidão e as condições precárias de acomodação levaram o publico a tomar lugares na praia, muitos nem pagaram ingressos. Com isso os carros foram forçados a passar por áreas de areia fofa causando atolamentos e muita confusão, forçando o encerramento da prova na 75ª volta.
Após muitos protestos o vencedor oficial foi Milt Marion e Bill France o 5º colocado, a confusão fez essa ser a ultima corrida promovida pela cidade de Daytona Beach, estima-se que a cidade perdeu US$22.000,00.
Haugdahl e France, que eram bons amigos, não desistiram e em 1937 promoveram uma corrida no “Labor Day” junto com o “Daytona Beach Elks Club”, o prêmio era de apenas US$100,00. Os altos custos com promoção e ajustes na pista fez os organizadores perderem razoáveis quantias em dinheiro. Haugdahl então decidiu se afastar das promoções de corridas e France seguiu sozinho, mesmo com todas as dificuldades de falta de dinheiro.
No ano seguinte Bill France conseguiu convencer o então famoso e rico “restauranter” Charlie Reese a investir um prêmio de US$ 1.000,00 em um novo evento. Apesar de perder a corrida para Danny Murphy, Bill France não deve ter ficado muito aborrecido porque o bom lucro convenceu o co-promotor a organizar outra corrida ainda no mesmo ano. Bill France continuou organizando e correndo até 1941 quando a segunda grande guerra interrompeu os eventos de esporte a motor, neste período ele voltou a trabalhar para o “Daytona Boat Works”.
Após o término da Guerra as coisas começaram lentamente a voltar ao normal, Bill France voltou ao esporte a motor como piloto e promotor, mas estava cada vez mais convencido que o esporte só teria sucesso se existisse uma organização forte para promover e regulamentar as corridas de carros de série, chamados de “Stock Car”. 
Na época os pilotos eram vítimas frequentes de promotores sem escrúpulos, que fugiam com todo o dinheiro das corridas, France queria estabelecer uma associação para promover as corridas, definir as regras técnicas e garantir o pagamento dos prêmios. Ao final da temporada seria coroado um único campeão nacional, através de um sistema de pontos distribuídos ao longo dos eventos do ano. 
Não foi uma iniciativa fácil outras organizações já disputavam o direito de organizar as corridas em um campeonato, entre elas a A.A.A. (Associação Americana de Automóveis) que mais tarde ficou famosa por organizar o campeonato USAC / CART com carros de cockpit e rodas abertas (fórmula Indy). Os demais grupos eram “United Stock Car Racing Association”, “National Auto Racing league”, “American Stock Car Racing Association” e “National Stock Car Racing Association”, a grande questão era que estas organizações geralmente estava interessadas apenas em campeonatos locais ou estaduais, nada de eventos de porte nacional. 
Reunião no Streamline Inn Motel
Felizmente France não pensava assim e em 1947 decidiu retirar-se das corridas como piloto para dedicar-se apenas na criação da futura associação, então em 12 de dezembro foi realizada uma reunião pioneira no Streamline Inn Motel em Daytona Beach, Florida, mobilizando um grupo de promotores, pilotos e mecânicos unidos pelo sonho de criar uma organização forte para definir regras, regulamentos e promover as corridas de “stock car”. 
Bill France Sr foi nomeado como presidente da então organização embrionária, pouco depois o seu esforço ser recompensado: Em 21 de fevereiro de 1948 nascia a “National Association for Stock Car Automobile Racing”, ou simplesmente NASCAR!

03/02/2016

Playlist Route 66 - California Dreamin´

A nossa playlist para viajar pela rota 66 está chegando ao final, saímos de Illinois e estamos chegando a Califórnia...
Este não é um blog de música, mas fica a dica para pesquisar um pouco sobre a história pessoal dos membros do "The Mamas and The Papas", é um grande resumo de como foram loucos os anos 60!


All the leaves are brown and the sky is grey
I've been for a walk on a winter's day
I'd be safe and warm if I was in L.A.
California dreaming on such a winter's day

Stepped into a church I passed along the way
Well, I got down on my knees and I pretend to pray
You know the preacher, like the cold, he knows I'm gonna stay
California dreaming on such a winter's day

All the leaves are brown and the sky is grey
I've been for a walk on a winter's day
If I didn't tell her I could leave today
California dreaming on such a winter's day
On such a winter's day, on such a winter's day

30/01/2016

Cosworth (Round 2 - Final)

Ford Zetec V8 3.6L
Finalizando o nosso bate-papo sobre a Cosworth...
A temporada de 1977 marcou o retorno dos motores turbo a F1 com a Renault, se a principio não assustaram muito, gradativamente os motores turbos alimentados passaram a dominar a F1 e novos fabricantes, como Porsche e Honda, passaram a serem protagonistas. Estas mudanças selaram o final do reinado do DFV e um frustrado Duckworth dizia "Turbo compressores foram feitos por pessoas que não conseguem construir motores”. A ultima vitória do DFV veio no GP de Detroit de 1983, com uma Tyrrell pilotada por Michele Alboreto. 
No âmbito empresarial a Cosworth mudava de donos pela primeira vez quando em 1980 foi vendida para a UEI - United Engineering Industries, entretanto Costin e Duckworth continuaram envolvidos nos assuntos técnicos da empresa.
Cosworth XB Turbo para F-Indy
Apesar das mudanças dentro e fora das pistas, o sucesso da Cosworth continuou nas décadas de 1980 e 1990 em diversas categorias ao redor do mundo. Em 1987 venceram o WTCC com um Ford Sierra RS500 Cosworth, Michael Schumacher ganhou o seu primeiro titulo na F1 com um Ford Zetec V8 em 1994 e nos Estados Unidos os motores Ford Cosworth DFX e XB dominaram a Cart/Fórmula Indy entre 1986 e 1992.
Para acompanhar a revolução causada pelo uso da eletrônica e novas tecnologias na indústria automobilística e nas corridas, em 1987 a Cosworth fundou uma divisão de eletrônica chamada Pi Research e comandada por Tony Purnell.
Keith Duckworth se aposentou em 1990 e o controle da empresa passou para o Vickers Group, estes por sua vez venderam a empresa 1998 para o grupo Audi, como esta mudança afetaria profundamente os planos de competição da Ford a Cosworth foi dividida em duas partes: Cosworth Technology (engenharia, produção e fundição) controlada pela Audi e a Cosworth Racing (esportivo) que continuou sobre controle da Ford.
Foi desta forma que a Cosworth voltou para a F1 fornecendo os motores e sistemas eletrônicos para a nova equipe “Stewart Grand Prix Formula One team” do tricampeão Jack Stewart e que chegou a vencer 1 GP com Johnny Herbert na Malásia em 1999, ao final da temporada a Ford adquiriu o controle total de equipe e a rebatizou como Jaguar Racing. Nesta época as empresas também foram fornecedoras de motores e eletrônica para a equipe Ford do WRC, fazendo uma parceria de sucesso com Colin McRae e Carlos “El matador” Sainz.
No começo dos anos 2000 a Cosworth, através da Ford, rivalizou com a Chevrolet nos dois campeonatos de formula nos Estados unidos; Na IRL Indycar com o modelo XG e na Champ Car com o Cosworth XF.
Em 2004, a Cosworth Racing mudou de mãos novamente quando Jerry Forsythe e Kevin Kalkhoven, coproprietários da “Champ Car World Series” (sucessora da CART), compraram a empresa da Ford. Os novos donos diversificaram a atuação buscando novos mercados em engenharia automotiva avançada, eletrônica de precisão e na indústria aeroespacial e de defesa. Por sua vez a Cosworth Technology foi vendida pela Audi para o grupo Mahle em 2005, o negócio girou em torno de US$4 bilhões e a empresa foi renomeada para Mahle Powertrain.
Em 2013 foram divulgados os planos de construção de uma nova fábrica em Northampton, coincidindo com os 50 anos de empresa na cidade. A nova fábrica vai oferecer motores de alto desempenho para fabricantes de supercarros, além de produtos de alta performance e tecnologia para o mercado de competição.
A Cosworth forneceu motores na F1 pela ultima vez para a equipe Marussia na temporada de 2013, infelizmente sem nenhum sucesso, marcando uma despedida melancólica do mais bem sucedido fabricante independente de motores de todos os tempos. Despedida pelo menos até agora, em se tratando de Cosworth vale a pena esperar pelos próximos capítulos... 
Por hora fica de aperitivo a linda sinfonia gerada por um Cosworth de F1!