A “March Engineering” pode ser lembrada pelos
seus projetos na F1 que não foram assim tão bem-sucedidos, mas a sua história
e importância para o automobilismo mundial vai muito além disso!
Por quase 30
anos a March projetou e construiu carros de sucesso em categorias de fórmula
(Fórmula Ford, Fórmula 2, fórmula 3, Fórmula Atlantic e Fórmula Indy) e também
em protótipos (Can-Am, IMSA GTP e Endurance).
A March Engineering iniciou as suas operações em 1969 em
Bicester, Oxfordshire, fundada por 4 sócios que juntaram seus talentos em áreas
específicas; Max Mosley (advogado de formação, cuidava da área comercial),
Robin Herd (designer, era o projetista chefe), Alan Rees (ex-piloto, gerenciava
a equipe de corridas) e Graham Coaker (ex-funcionário da Hawker Siddeley,
cuidava da fábrica).
Mosley, Rees, Coaker e Herd |
Desde a sua criação decidiram por diversificar a
atuação da empresa em muitas categorias, a ideia era utilizar os lucros da fábrica de
carros de corrida para financiar a equipe de F1, o grande sonho de todos. Na prática isso nunca foi
tão simples.
Em 1969 a March lançou o seu primeiro carro para a F3 e já
no ano seguinte causou espanto ao anunciar o seu programa para a F1, com uma
equipe própria e fornecimento para equipes clientes. A produção de carros para a F2, F3,
Fórmula Ford e Can-Am seria mantida.
A equipe própria da F1 consistia em ter um único carro para a estrela em ascensão Jochen Rindt, porém Rindt decidiu continuar com a equipe Lotus de Colin Chapman frustando os planos originais da March.
A equipe própria da F1 consistia em ter um único carro para a estrela em ascensão Jochen Rindt, porém Rindt decidiu continuar com a equipe Lotus de Colin Chapman frustando os planos originais da March.
March 701 da Tyrrell |
O ano de estreia na F1 como um todo foi bom, apesar da equipe de fábrica não conseguir nenhuma vitória, Jackie Stewart conseguiu a primeira vitória de um March no Grande Prêmio de Espanha.
Para a temporada seguinte da F1 foi apresentado o 711, a
aerodinâmica era assinada por Frank Costin que desenhou uma asa frontal apelidada de “Spitfire” (por sua forma) ou "Tea-tray" (para posição
elevada no carro). Apesar de não conseguirem vitórias, Ronnie Peterson terminou
4 GPs em segundo lugar e acabou o ano como vice-campeão.
March 711 |
Um fato curioso neste ano ocorreu quando o cliente Mike Beuttler encomendou um novo carro, a equipe produziu o 721G em nove dias (o 'G' veio porque entrou para 'Guinness Book Of Records' como o carro construído em tempo recorde). Utilizando o motor Cosworth DFV, o 721G na prática era um chassi de F2 melhorado e se mostrou leve e rápido, dizem eu se estivesse pronto desde o começo do ano teria salvo a temporada da equipe na F1, por outro lado a March seguia conseguindo excelentes resultados na F2 e F3.
A temporada de 1973 marcou o céu e o inferno para a March,
de um lado foram campeões na F2 com Jean-Pierre Jarier com o modelo 732 e motor
BMW, de outro seguiam ladeira abaixo na F1. Os quatro chassis 721Gs foram
adaptados as mudanças de regulamento (estruturas deformáveis absorventes
passaram a ser obrigatórias) e receberam algumas evoluções sendo renomeados
como 731. A equipe Hesketh comprou um carro para James Hunt, Jarier correu
algumas etapas e foi substituído por Tom Wheatcroft, no entanto a equipe viveu
seu pior momento com o acidente fatal de Roger Williamson em Zandvoort, o
acidente ficou marcado pela cena de David Purley tentando resgatar Williamson
de seu carro em chamas.
Na temporada seguinte a Hesketh teve um carro aperfeiçoado
por Harvey Postlethwaite e conseguiram marcar alguns pontos, isso foi mais uma
evidência dos erros da fábrica no projeto básico do 731.
Com tanta coisa contra a March acabou se vendo obrigada a dar mais atenção a F2 do que a própria F1, também lançaram um protótipo de 2 litros que correu até 1975, alguns destes carros foram sendo modificados e competiram no Japão até o começo dos anos 1980.
Com tanta coisa contra a March acabou se vendo obrigada a dar mais atenção a F2 do que a própria F1, também lançaram um protótipo de 2 litros que correu até 1975, alguns destes carros foram sendo modificados e competiram no Japão até o começo dos anos 1980.
Na temporada de 1974 o time teve como pilotos Hans-Joachim
Stuck, patrocinado pela Jägermeister, e Vittorio Brambilla no icônico carro
laranja patrocinado pela Beta Tools, dupla que ficou marcada não por atuações
marcantes, mas pelo alto número de acidentes.
A March sentia a pressão cada
vez
maior da BMW, sua parceira da F2, para dar mais foco para a categoria onde
venceram novamente o campeonato com Patrick Depailler e o vice-campeonato com
Hans-Joachim Stuck, foi o último campeão da F2 com um March até 1978.
A March sentia a pressão cada
GP de Pau de F2, 1973 |
Na temporada da F1 de 1975 a March continuou tendo um papel
secundário, tanto que foi uma grande surpresa a vitória de Brambilla no Grande
Prêmio austríaco reduzido pela chuva, outro ponto marcante, não pelo lado
esportivo, foi ter na equipe a única mulher a marcar pontos (na verdade meio
ponto) na F1 com Lella Lombardi no fatídico GP da Espanha.
Outra tragédia marcou a March com a morte de Mark Donohue
nos treinos do GP da Áustria, o carro era um Penske que não passava de um March
modificado. A política de fornecimento de carros a equipes clientes continuava,
mas a insatisfação destes também, ao ponto que Frank Williams comprou um
chassi 761B, supostamente novo, e descobrir que era um 751 usado! O carro tinha a
cor laranja do carro de Brambilla por baixo.
Em 1976 Ronnie Peterson cansou do carro pouco competitivo
na Lotus e retornou para a March, ele conseguiu a última vitória na equipe em
Monza com o modelo 761 que era rápido, mas sua fragilidade comprometeu os
resultados da equipe, Peterson só marcou pontos em mais um GP e deixou a equipe
no final da temporada.
March 2-4-0 |
A pressão da BMW sobre a March para se concentrar
exclusivamente na F2 estava muito alta, Robin Herd também preferia se
concentrar inteiramente na F2 porque a March começava a ser superada por novos
construtores, os franceses Martini e Elf e a nova marca inglesa Ralt.
Houve uma tentativa de renovação da equipe da F1 em
1977 com novo patrocínio (Rothmans) e pilotos (Alex Ribeiro e Ian
Scheckter), mas o novo modelo 761 também não se mostrou competitivo e mesmo clientes
habituais como Frank Willians foram buscar outras soluções.
O sonho da F1 terminaria desta forma? Assunto para asegunda parte desta história...