Eu estava mesmo querendo resgatar os apelidos de pilotos famosos, alguns até são meio pejorativos, mas a verdade é que quase sempre merecidos pelo que esses pilotos fazem na pista.
Vamos começar a série com um apelido que vem lá dos EUA e, por sinal, é pra lá de muito merecido; RICHARD PETTY, ou simplesmente, THE KING.
Precisa explicar porque?
Vamos lá, simplesmente o cara foi o primeiro piloto a ser 7 vezes campeão da NASCAR (1964, 1967, 1971, 1972, 1974, 1975, 1979), detém o recorde de 200 vitórias e venceu as 500 milhas de Daytona por 7 vezes (1964, 1966, 1971, 1973, 1974, 1979 e 1981)!
É considerado por muitos o maior piloto americano de todos os tempos, é mesmo o REI. (entenderam de onde vem o carro azul chamado de "rei" no desenho da pixar "carros"?!)
Em muitos países, principalmente nos EUA, associações independentes são fundamentais na organização das competições, feiras e eventos ligados aos carros e motos (muito diferente daqui do Brasil, infelizmente).
Aqui no blog já falamos de algumas destas associações, como a SCTA, Good-Guys e CAN-AM, cujo trabalho costuma ser muito legal porque diminui a dependência de federações e do dinheiro alheio.
Agora vamos falar de uma das mais importantes de todas: NHRA - National Hot Rod Association (Associação Nacional de Hot Rod).
A NHRA é a entidade responsável pelo incrível sucesso das corridas de arrancadas (Drag Race) nos EUA, não é a toa que atualmente tem mais de 40.000 pilotos associados, sendo considerada a maior organização sancionadora de automobilismo do mundo.
Essa história começa nos anos 1930, quando as arrancadas eram disputadas em lagos secos, como Muroc e El Mirage no deserto de Mojave, na Califórnia, aos poucos essas "corridas" também passaram a ser (perigosamente) disputadas em estradas secundárias, com velocidades chegando aos 100 mph e, na maior parte das vezes, na ilegalidade.
Em 29 de novembro de 1937 vários entusiastas, entre eles o editor da Hot Rod Wally Parks, começaram a botar ordem na casa fundando a SCTA (Southern California Timing Association), ele foi o gerente geral e depois o secretário executivo da entidade.
A SCTA organizou a primeira "Semana da Velocidade" em Bonneville Salt Flats em 1949, foi a primeira vez que os pilotos começaram a correr em um trecho igualmente cronometrado, em vez de simplesmente alucinadamente tentando atingir as velocidades máximas de seus carros.
Em 1950 foi aberta a primeira pista fechada de “dragster”, a Santa Ana Drags, e rapidamente a modalidade se popularizou, trazendo mais público, competidores e evidenciando ainda mais a carência de organização de modo geral.
Wally Parks era o editor da revista Hot Rod, juntando sua influência e experiência na SCTA e em 1951 liderou o movimento para formar a National Hot Rod Association, tornando-se também o seu primeiro presidente.
O objetivo da associação era "criar ordem no caos", instituindo regras de segurança e padrões de desempenho para tirar o esporte da ilegalidade.
As primeiras corridas da NHRA ocorreram em abril de 1953, em um estacionamento em Pomona, condado de Los Angeles, Califórnia. Desde o começo, além da parte esportiva, houve grande preocupação em melhorar a estrutura dos eventos, criando comodidades para os fãs como torres VIP e arquibancadas altas.
Em 1955 a NHRA organizou o primeiro evento nacional chamado "The Nationals" em Great Bend, Kansas, em um campo aéreo de treinamento. Em 1961 chegaram em Indianapolis com o “Winternationals”, o segundo evento anual da NHRA.
A partir daí a NHRA evoluiu muito, hoje tem cerca de 200 funcionários cuidando de mais de 70.000 membros e 40.000 pilotos licenciados, as competições ocorrem em pelo menos 120 pistas em toda a América do Norte.
Existem mais de 20 categorias e vários campeonatos, a série “NHRA Mello Yello Drag Racing” com 24 etapas é a principal divisão, composta pelas quatro classes profissionais mais importantes: Top Fuel (que passa de 320 km/h), Funny Car, Pro Stock e Pro Stock Motorcycle.
Atualmente, nos EUA, a NHRA só perde para a NASCAR em termos de popularidade, apelo dos fãs, audiência e patrocínios. Os principais parceiros são The Coca-Cola Company (dona da marca Mello Yello) e a Lucas Oil Products que patrocina séries de desenvolvimento, outros patrocinadores oficiais incluem Toyota, Chevrolet, Goodyear, Traxxas e Harley-Davidson.
Outro fato notável é que as principais séries tem transmissão exclusiva da FOX Sports.
Uma outra iniciativa interessante da NHRA é o “NHRA Drags: Street Legal Style”, que oferece a oportunidade de competir em corridas de arrancada para qualquer dono de carro, com carteira de motorista válida, capacete e seguro de automóvel.
Wally Parks deixou a presidência geral da NHRA apenas em 1984, quando assumiu a presidência do conselho e foi sucedido por Dallas Gardner, Gardner por sua vez ficou até na presidência até o ano 2000 sendo sucedido por Tom Compton que se aposentou em 2015, desde então Peter Clifford, um executivo de carreira da NHRA, foi nomeado como presidente. Notem que Peter Clifford é apenas o quarto presidente em toda a história da organização desde 1951, certamente essa estabilidade na gestão é uma das explicações do sucesso da NHRA.
Por fim, quase 70 anos após o começo de tudo, a pista em Pomona sofreu uma reforma US$6 milhões e hoje abriga o evento de abertura “Circle K NHRA Winternationals” e também o final da temporada, o “Automobile Club da Southern California NHRA Finals”.
Algum tempo tempo atrás falamos neste post sobre algumas das mais marcantes "não" vitórias das "24hs de Le Mans"...
Porém, com tantos anos de história dessa corrida fantástica é muito fácil deixar de citar algumas outras edições emblemáticas. Aqui vão mais duas edições dramáticas; Festa imensa para alguns e tristeza infinita para outros;
1966 (34a edição):
Por conta do trailer do filme "Ford vs Ferrari", que contamos os dias para o lançamento, lembramos de uma sacanagem do destino com o grande piloto Ken Miles.
Miles foi um piloto fantástico, mas nem sempre devidamente reconhecido, naquele ano ele fazia parte do "dream team" montado por Ford e Shelby com 4 GT40 (Bruce Mclaren/Chris Amon, Ronnie Bucknum/Dick Hutcherson, Dan Gurney/Jerry Grant e Ken Miles/Denis Hulme) inscritos para vencer a Ferrari, a todo custo, diga-se.
Na bandeirada Miles e Hulme venceram, mas quem levou a vitória foram McLaren e Amon. Wtf?!?! Vamos explicar...
A Ford fazia 1-2-3 e tinha a vitória garantida na corrida, então ordenou por segurança (ou para humilhar a Ferrari) para seus carros reduzirem e cruzarem a linha de chegada juntos, lado a lado. Os três obedeceram a ordem de box e cruzaram próximos, mantendo as posições com Amon/Miles em primeiro e Mclaren/Hulme em segundo, ambos terminaram na mesma volta (no. 360).
Tudo era festa para Miles e Amon quando os fiscais "lembraram" da regra que mudou tudo. A tal regra determinava que quando completadas o mesmo numero de voltas, seria considerado vencedor aquele que percorresse a maior distância desde a largada.
Como McLaren/Amon largaram cerca de 18 metros atrás de Miles/Hulme e cruzaram só 10 metros atrás, foram declarados os vencedores por 8 metros!!! Parece loucura, mas existe sentido nesta regra porque a largada era em fila com os carros parados a 45o graus (a famosa "largada Le Mans"), por isso quem largava mais atrás percorreria uma distância maior.
2019 (87a Edição):
A Toyota vem se especializado em finais dramáticos (ou enrolados), mesmo quando eles vencem.
Na edição deste ano a trinca do TS050 #7 (Mike Conway, Kamui Kobayashi e Jose Maria Lopez) liderava com quase 3 minutos de vantagem sobre o #8 (Fernando Alonso, Sebastian Buemi e Kazuki Nakajima) a menos de 2 horas do fim. Obviamente, o box controlava a corrida dos dois carros para evitar problemas, mas eis que o #7 acusou um pneu furado, o furo era pequeno e eles puderam chegar com segurança ao box, trocar 2 pneus (guardaram 2 por segurança) e ainda voltaram na frente...
Só que não contavam que os mecânicos trocaram os pneus do lado errado!!!! Conclusão, tiveram que voltar ao box, desta vez lentamente, para trocar os outros 2 pneus. No final chegaram em segundo a 16 segundos do #8 vencedor.
Vale uma provocação; se este azar/trapalhada/burrada ocorresse no carro #8, será que o Alonso ficaria quieto e sem dar chilique exigindo que devolvessem a posição para o carro dele???
Estes dois posts trazem uma grande confirmação, temos mesmo que respeitar uma das maiores leis desta corrida; "É Le Mans que escolhe os seus vencedores", nunca o contrário!
Em 1936 a GM, através do diretor de pesquisas Charles “Boss”
Kettering, criou a “Parade of Progress”, a ideia era criar uma exposição itinerante para promover os seus carros e tecnologias futuristas (para a época), tais como motores a jato, avanços na engenharia
de tráfego, som estereofônico, fornos de micro-ondas, televisão, entre outras...
A caravana foi inicialmente planejada para percorrer uma rota
de 150 paradas através dos Estados Unidos e Canadá. No começo usaram oito caminhões
Streamliner personalizados, mas que anos depois foram substituídos pelos veículos FUTURLINER.
Os primeiros "Streamliners"
Os FUTURLINERS, foram batizados sem o “E” para que a GM pudesse registrar
a marca, eram grandes veículos com design futurista, montados sob chassis GMC e
pintados na cor vermelha.
Entre 1939 e 1940 a GM fabricou 12 unidades ao custo
de US$ 100.000 cada unidade, ou aproximadamente US$1,67 milhão atuais.
Esses "monstros" tinham oito rodas, quatro em cada eixo, 3,5
metros de altura, 2,4 metros de largura, 10 metros de comprimento e pesavam 14
toneladas, nessa “primeira geração” usavam um motor diesel de 4 cilindros e transmissão
manual, para “conduzir” os Futurliners foram especialmente treinados 50 motoristas.
Alcançando a velocidade máxima de 64 km/h, não foi à toa que logo ganharam o
apelido de “elefante vermelho”!
Muitas peças e placas cromadas foram usadas para ressaltar o ar tecnológico, o design da cabine de 3 ocupantes foi projetado por Raymond Smith, inspirado no bombardeiro Boeing B29 da Segunda Guerra Mundial, mas tiveram que ser alteradas por causa do calor excessivo.
Como um veículo conceitual funcional eles tinham muitas singularidades, ou problemas, suas
rodas dianteiras duplas tinham o seu próprio conjunto de freios a tambor e
rolamentos.
Quase todos modelos tiveram problemas na bomba de direção hidráulica, provavelmente
pelo enorme esforço para girar as rodas, no entanto, um dos priores pontos do veículos era os freios fracos,
tanto que para garantir a segurança foram instalados receptores de rádio no
comboio e durante o comboio deveriam manter 100 metros de distância entre um e
outro.
Voltando ao propósito, cada veículo tinha um tema específico e em cada parada eles ficavam
em torno de uma grande tenda e um quiosque de informações, a comitiva ainda
contava com outros 32 veículos de apoio.
A tour da “parade of Progress” foi interrompida pela Segunda Guerra
Mundial, em 1941, neste período os veículos retornaram para a GM onde foram reformados e voltaram a estrada em 1953.
Nesta “segunda geração” os FUTURLINERs passaram a usar um motor GMC OHV
6 cilindros de 302 polegadas e caixa de câmbio automático de 4 velocidades “Hydramatic
plus”, com estas melhorias a velocidade final passou 80 km/h.
A parada continuou por mais alguns anos até ser interrompida
definitivamente em 1956, pois gradativamente a curiosidade do público foi diminuindo, afinal muitos dos temas abordados deixaram de ser novidade pela crescente
popularidade das redes de televisão, ironicamente uma das tecnologias que eram abordadas
pelos próprios Futurliners.
Entre 1939 e 1956 estima-se que aproximadamente 13 milhões
de pessoas, em quase 300 cidades nos Estados Unidos e Canadá, viram os shows gratuitos proporcionados pela
parada.
Após o fim dos eventos a maioria dos Futurliners foi vendida e os restantes
doados à polícia de Michigan.
Dos doze veículos originais um foi destruído em um acidente ainda durante a parada em 1956, mas existem registros que nove sobreviveram até hoje.
Atualmente são muito valorizados como peças de coleção, para se ter uma ideia em 2014 o #10 foi indicado para inclusão no “National Historic Vehicle
Register”, o #11 foi recentemente totalmente restaurado e leiloado por US$4.000.000, todo o lucro foi revertido à Fundação das Forças Armadas dos EUA. Para saber mais:http://www.futurliner.com/