07/03/2015

Hesketh Racing

A história desta equipe de F1 é muito diferente (ou seria surreal?) de tudo o que você já soube sobre F1, talvez até de todas as categorias do automobilismo...
Tentar fazer um paralelo desta história com a chatice que a F1 moderna vem se transformando é quase impossível, e p
ara provar que temos razão vamos imaginar as seguintes situações;
1) De repente você tem uma ideia "fantástica"; Que tal montar uma equipe de F1. WTF, mas para que?
Simples, só para se divertir o máximo possível!
2) Mas, para isso o orçamento será muito pequeno, ainda mais se comparado aos outros times de sucesso da F1...
(Será que a tal ideia "fantástica" já começa a beirar o ridículo?)
3) Nem tanto... Com nada a seu favor, você ainda consegue convencer um talentoso engenheiro de sucesso da F1, com emprego estável, a largar tudo para se juntar a sua ideia "fantástica"!
4) Para pilotar você escolhe um jovem piloto desconhecido, mas com potencial. Só que o tal piloto adora envolver-se em acidentes e a sua conduta é, digamos, diferente considerando o comportamento dos outros pilotos profissionais.
5) Mesmo assim, a tal equipe terá que ter muito estilo; chegar ao país do GP em iates (como em Mônaco) e entrar no paddock de Rolls Royce!!!
Com tanta coisa bizarra, qual a chance disso dar, minimamente, certo???
Sem mistérios, foi assim que surgiu a HESKETH RACING em 1973, criada pelo excêntrico nobre inglês Lord Thomas Alexander Fermor-Hesketh, ou conhecido apenas como barão de Hesketh. 
Lord Hesketh, nascido em 1950, era o primeiro herdeiro da grande fortuna da família, com mais de 9.000 hectares de terras agrícolas ao redor de Easton Neston..
Sempre foi um "selvagem", como aos 21 anos quando fugiu da escola para desespero da família aristocrata... 
Voltando ao começo da conversa, ele e o amigo Anthony "bubbles" Horsley decidiram montar uma equipe de F2, contrataram um novato com fama de ser rápido, mas já com certo histórico de acidentes, James Hunt. Na F3, Hunt era conhecido como "Hunt the Shunt". 
Hesketh comprou um carro Surtees TS1 para correr na F2, e logo depois comprou outro modelo antigo TS9 já pensando em fazer algumas corridas na F1.
A temporada de F2 na pista não foi exatamente um sucesso, fora delas também não foi boa, Hunt teve o braço quebrado enquanto fazia palhaçadas numa festa quando estava um pouco "animado".
Mesmo com resultados modestos a equipe já começava a chamar a atenção do paddock, os integrantes usavam uniformes vistosos e era visível os gastos "excessivos" e o jeito relaxado, quase irresponsável.
O carro usava uma pintura meio patriota, branco e faixas vermelhas e azuis, pois além de tudo Lord Hesketh se recusava a correr com patrocínio.
Com um chassis March 731 a equipe e Hunt estrearam em uma corrida de F1, foi no "race of champions" de 1973 conseguindo um impressionante 3o lugar.
Mesmo sem disputar todo o campeonato da F1 ainda conseguiram um 4º lugar no GP da Inglaterra e o 2o. lugar no GP dos EUA, empolgante!
Hunt e Horsley convenceram Lord Hesketh que a F2 era perda de tempo e deveriam focar apenas na F1, então Lord Hesketh contratou um certo Harvey Postlethwaite para ser o engenheiro chefe e mudaram-se de vez para a F1 para disputar o campeonato de 1974. Os estábulos da propriedade da família, em Easton Neston, foram convertidos em apartamentos para a equipe.
Iniciaram o campeonato de 1974 ainda com o March 731 e a partir da terceira etapa mudaram para o primeiro chassi projetado pela equipe, chamado de 308, estreando com uma vitória no International Trophy em Silverstone.
O começo foi difícil, mas encorajador, Hunt conseguiu três pódios com terceiros lugares nos GPs da Suécia, Áustria e Estados Unidos, além do quarto lugar no GP do Canadá, terminando o campeonato de 1974 com um empolgante oitavo lugar. Considerando ser uma equipe que estreava o seu próprio carro, no primeiro campeonato completo, não era nada mal, ainda mais contando o nível da concorrência como Brabham, Tyrrell, McLaren, Ferrari e Lotus!
A equipe se animou para o campeonato de 1975, mas Lord Hesketh já estava começando a sentir a falta de dinheiro. As festas e os gastos com ostentação contribuíam bastante para piorar a situação, viviam ao estilo de playboys, chegavam às corridas em Rolls-Royces, bebiam champanhe, independentemente dos resultados, e só ficavam em hotéis de cinco estrelas
Foi nesta época que surgiu o lendário bordado no macacão de James Hunt: "Sex - The Breakfast of Champions".
Houve evoluções do modelo 308 com as versões 308B e 308C, Hunt conseguiu a sua primeira vitória (única da equipe Hesketh) no GP da Holanda, além de terceiro nos GPs da Argentina, França e Áustria e um quarto lugar nos GPs do Inglaterra e dos Estados Unidos, levando ao quarto lugar no campeonato da F1 em 1975.
Para ajudar no orçamento, naquele ano a equipe vendeu chassis para equipes pagantes, como para a equipe Harry Stiller Racing que fazia a estreia de um tal Alan Jones, mas o conto de fadas praticamente acabou junto com o campeonato.
As dívidas se acumulavam e Lord Hesketh não conseguiu encontrar patrocínio em tempo para manter a equipe, sendo forçado a anunciar que estava saindo da F1 e não disputaria o campeonato de 1976. 
Os carros foram vendidos para Walter Wolf Racing, sendo rebatizados de Williams FW05s. James Hunt ficou desempregado, mas acabou sendo chamado pela McLaren para substituir Emerson Fittipaldi que estava se mudando para a equipe Copersucar de seu irmão (mas isso é outra história).
Harvey Postlethwaite mudou-se para a equipe Wolf-Williams, durante o ano Horsley ainda conseguiu um patrocínio da Penthouse (só podia ser deste tipo) para retomar as atividades e participaram de algumas corridas, mas sem marcar um único ponto com o modelo 308D em 1976. 
Frank Dernie foi contratado e projetou o novo chassis 308E para a temporada de 1977, o melhor resultado foi um 7º lugar no GP da Áustria com Rupert Keegan. 
Em 1978 a equipe voltou a alinhar um único carro, com o apoio da Olympus, mas depois de um começo errante e apenas três GPs sem sequer se classificar, a equipe desapareceu de vez.
Após o fechamento da equipe de F1, Lord Hesketh fundou uma empresa de motocicletas chamada Hesketh Motorcycles, mas após poucos modelos acabou falindo em 1984.
O ex-rebelde e playboy Lord Hesketh seguiu por caminhos mais nobres, foi chefe de governo na Câmara dos Lordes em 1986, ministro auxiliar do Departamento de Comércio e Indústria em 1990 e vereador Privy em 1991. Ele também se tornou presidente do Drivers British Club Racing e vive atualmente no Reino Unido, militando entre a nobreza e a política.
Certamente nunca mais veremos nada tão fora dos padrões da F1 como foi a Hesketh Racing, atualmente o dinheiro e interesses comerciais da F1 moderna sufocam a aventura e o idealismo, não há espaço para playboys e os garagistas se foram. 
Resta sabermos se a própria F1 sobreviverá, esquecendo suas raízes que a transformaram na maior categoria do automobilismo. A ver....

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