Falar de motores 2 tempos numa época em que os motores híbridos e elétricos são o centro das atenções parece estranho, mas para o blog estes fumacentos e barulhentos motores, antes tão importantes, também merecem a nossa atenção.
Os motores 2 tempos tiveram o seu auge, nos carros e motos, nos anos 1960 e 1970, principalmente com marcas como a sueca SAAB, as alemãs ocidentais DKW (inclusive no Brasil) e Sachsenring, as alemãs orientais Trabant e Wartburg e a Japonesa Suzuki, nas motos tivemos a DKW e vários fabricantes Japonesas como Suzuki e Yamaha (quem não lembra da linha RD da Yamaha, em especial a RD 350).
Hoje o motor 2T está praticamente restrito para usos específicos como jetskis, motosserras, snowmobiles, karts, motores de popa e outras máquinas estacionárias. São motores que funcionam em qualquer orientação, o pode ser uma grande vantagem para estas finalidades.
O pioneiro nesta tecnologia foi o engenheiro escocês Dugald Clerk que patenteou a ideia inicial em 1881, mas o responsável pelo primeiro motor verdadeiramente prático foi o inglês Alfred Angas Scott, em 1908, quando começou a fabricar motocicletas utilizando este tipo de motor.
Numa comparação entre motores 2 tempos e 4 tempos temos várias diferenças, a principal são os ciclos de funcionamento:
Nos motores 4T, resumidamente, temos 4 ciclos bem definidos (admissão, compressão, ignição e escape), são necessários 4 cursos do pistão para completar um ciclo de potência, com uma ignição a cada 2 giros do virabrequim. São utilizadas válvulas e coletores de admissão para levar a mistura ar + combustível para a câmera de combustão e válvulas e coletores de escapamento para expelir os gases da combustão.
No motor 2T temos 2 ciclos (ignição e escape), na ignição o pistão sobe abrindo uma janela de admissão para entrada da mistura ar + combustível no motor, ficando alojada na parte inferior do virabrequim, no ciclo seguinte ocorre a ignição que empurra o pistão para baixo expelindo os gases de escape por uma outra janela superior.
Quando a janela de admissão se fecha e o combustível é levado para a câmara de combustão por um duto do virabrequim, as velas emitem a centelha e a ignição ocorre novamente, fechando o ciclo.
Um motor 2T pode ser movido a álcool, gasolina ou diesel, com diesel a entrada da mistura ar + combustível utiliza a injeção direta de combustível e um sistema de lubrificação na base do cárter.
Em termos teóricos o motor 2T gera o dobro de potência de um motor de 4T, porque precisa da metade dos ciclos do pistão para completar um ciclo de potência, esse foi o motivo que o emblema dos DKWs apresentava “3=6”, ou seja, o motor de três cilindros entregava o desempenho de um de seis. Na prática, nem sempre é assim porque o motor 2T sofre mais com as variações das condições de uso: rotação, altitude, temperatura e qualidade do combustível.
A relação peso x potência costuma ser mais favorável aos motores 2T, estes têm uma quantidade menor de peças móveis, não tem válvulas de admissão e escapamento por exemplo, tornando-se mais simples, compactos e leves.
Na questão de emissões de gases, porém, o motor 2T não é tão eficiente perdendo feio para outros tipos de motores de combustão interna. Essa limitação ocorre porque a lubrificação interna no motor 2T é feita através da mistura de óleo no combustível que é queimada pelo motor, o que gera muita fumaça (a tradicional fumaça azul com forte cheiro de óleo).
O fator ambiental tem sido determinante para o seu crescente desuso, as regulamentações estão cada vez mais rigorosas contra a poluição.
😊 Vantagens dos motores de dois tempos:
1 – Versatilidade: Um motor 2T pode funcionar em qualquer posição, inclusive de cabeça para baixo, ao contrário dos motores 4T tradicionais, isso permite ampliar a sua aplicação, de máquinas industriais, carros e motos, até aplicações domésticas e marítimas.
2 – Peso e tamanho: Facilita a sua aplicação em veículos compactos (jet skis, motor estacionário, etc), pois gera boa potência com menor capacidade e utiliza menos componentes internos.
3 – Funcionamento mais simples: O motor 2T não utiliza válvulas, o próprio pistão atua como válvula, controlando a abertura e fechamento das janelas de admissão e escape, com isso não existe um cabeçote para acomodar as válvulas. Não utiliza bomba de óleo, o combustível recebe óleo, e sistema de refrigeração líquida.
4 – Custo menor: Como utiliza uma quantidade menor de componentes e tem funcionamento mais simples, os custos de fabricação e manutenção são mais baixos, também demanda menor qualificação técnica para manutenção.
5 – Potência: O motor 2T pode chegar a produzir o dobro da potência de um motor 4T, vamos lembrar que o motor 2T completa um ciclo de funcionamento a cada volta do virabrequim, o motor 4T precisa de 2 voltas do virabrequim.
😒 Desvantagens dos motores de dois tempos:
1 – Alta emissão de gases poluentes: A lubrificação é feita pela mistura de óleo no combustível, isso gera altos índices de poluição porque o óleo é queimado junto com o combustível. Nos tempos de aperto da legislação de emissões isso inviabiliza a aplicação de motores 2T em veículos de carros, motos e veículos pesados, pois não possuem condições técnicas de atender a legislação de emissões.
2 – Maior Consumo de combustível: Nada vem de graça, para gerar o dobro da potência naturalmente haverá maior consumo de combustível.
3 – Necessidade de adicionar lubrificante regularmente: Existe a necessidade de misturar óleo no combustível porque o sistema de lubrificação não utiliza bomba de óleo. Exemplo: A cada tanque de 50 litros de combustível deve ser adicionado 1.000 mililitros de óleo lubrificante, é um trabalho adicional do proprietário. É melhor não ter uma garagem fechada...
4 – Maior Nível de ruído e vibração: Se o motor 2T produz o dobro de ciclos do que um motor 4T, naturalmente terá o dobro de ruído e vibração. Isso pode ser sentido mesmo com abafadores e isolamentos acústicos mais reforçados.
5 – Mais sensível as condições de funcionamento: Mudanças bruscas de rotação, altitude, temperatura ou qualidade de combustível tem grande impacto na performance.
6 – Menor durabilidade: O motor 2T não tem um sistema de lubrificação e refrigeração tão apurado como nos motores 4T, além de funcionar mais perto do limite (maior rotação), por isso costumam se desgastar mais e ter durabilidade menor.
Tecnologia simples e eficiente, mas que aos poucos perdeu relevância por restrições ambientais e consumidores mais exigentes sobre questões de ruído, consumo e durabilidade... Vai uma fumacinha aí?
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