14/09/2016

Targa Florio

A Targa Florio foi uma corrida de resistência disputada em estradas e ruas das montanhas da Sicília, próximo a cidade de Palermo. A prova é considerada é mais antiga competição de carros esportes que existiu, foi criada pelo pioneiro do automobilismo e também piloto Vicenzo Florio em 1906, na verdade ele já tinha criado outra corrida na cidade de Brescia chamada “Coppa Florio” em 1900. Na época o cara era uma espécie de Bill France SR europeu...  
Na primeira edição da Targa Florio foram percorridas em um traçado conhecido como “Grande”, totalizava um percurso de 446 km (277 milhas) em três voltas, o vencedor foi Alessandro Cagno com um tempo de mais de nove horas a 50 km/h de média (30 milhas). O recorde de volta do circuito “Grande” foi de "incríveis" 2 horas, 3 minutos e 54 segundos (média de 70,7 km/h), assinalada pelo ás italiano Achille Varzi com um Bugatti Tipo 51 na edição de 1931.
O grande desafio da Targa Florio era superar a dificuldade de pilotar em uma pista de traçado e variações únicas no mundo, o traçado “Grande” tinha mais de 2.000 curvas por volta! Nas edições de 1932 a 1936 e 1951 a 1977 foi utilizado um traçado conhecido como “Circuito Piccolo dele Madonie” de 72 quilômetros (45 milhas) e mais de 800 curvas, geralmente percorrido em 11 voltas. 
O traçado da prova formado por estradas públicas tornava quase impossível para os pilotos treinarem, no máximo algumas semanas antes eles colocavam placas nos seus carros de corrida e dividiam o traçado com o trafego normal. Como nos rallies os carros eram liberados um a um, com cerca de 15 segundos de intervalo, o que logo transformava o tráfego dos competidores mais lentos um outro desafio a ser superado.
Durante as décadas de 1920 e 1930 a competição tornou-se uma das mais importantes da Europa, rivalizando com as 24 horas de Le Mans e a Mille Miglia, a corrida só foi interrompida durante as duas grandes guerras. 
Em 1953 foi criado a FIA criou o “WSC - World Sportscar Championship” e a partir de 1955 a Targa passou a ser uma etapa oficial do mundial. Neste ano a Ferrari e outras marcas Italianas foram batidas pela Mercedes-Benz que fez uma dobradinha com Stirling Moss / Peter Collins e Juan Manuel Fangio / Karl Kling com os incríveis 300 SLR. 
Dream team é isso!
No final da década de 1960 começaram a participar carros com mais de 600 CV como as Ferraris 512S, Alfa Romeo 33 e Porsche 908/03 Spyders, naturalmente estes monstros voando no meio das vilas repletas de moradores/espectadores elevaram consideravelmente os riscos que já não eram baixos. 
Em 1973 ocorreram dois acidentes fatais, um com o piloto Charles Blyth e outro envolvendo um grupo de espectadores e mantando uma pessoa, outros acidentes foram registrados ferindo mais sete espectadores. A FIA também começava a impor novas regras de segurança (barreiras de proteção), que eram impossíveis de serem adotadas pelo tamanho e característica do circuito. 
Com tudo isso a Targa foi retirada do WSC no mesmo ano, em 1973.
Mesmo fora do WSC a Targa sobreviveu como um evento nacional até 1977, na edição deste ano ocorreu outro acidente fatal vitimando dois espectadores e ferindo gravemente mais cinco pessoas. As autoridades locais decidiram paralisar a prova na quarta volta e isso marcou o fim da Targa Florio como competição. Em 61 edições e 71 anos de história a Targa vitimou nove pessoas, outras provas como a Mille Miglia ou o Tourist Trophy tem um histórico de casualidades muito pior, mesmo assim a segurança e sanidade falaram mais alto antes de haver alguma tragédia maior.
Afora tudo isso a Targa deixou um legado inegável ao automobilismo, após os suas vitórias a Porsche decidiu nomear a versão de teto removível do seu modelo 911 como “Targa”, o que acabou virando uma nomenclatura padrão para este estilo de capota, outras montadoras também utilizaram referencias a prova para nomear seus modelos, como o Leyland P76 Targa Florio.
   
Lista do Vencedores;

07/09/2016

Colin Chapman

É quase impossível retratar a grandeza e a genialidade de Anthony Colin Bruce Chapman, afinal poucos foram tão geniais, criativos e inovadores como ele...
Nascido em 09 de maio de 1928, em Londres, Colin Chapman cursou engenharia estrutural no “University College London” e depois aprendeu a voar na “University of London Air Squadron”, em 1944 conheceu a sua futura esposa, Hazel Williams, pessoa que teve um papel fundamental no seu envolvimento com carros e corridas. Entrou por um breve período para a RAF (Royal Air Force) em 1948 e retornou a vida civil em 1952 fundando a “Lotus Engineering”, mas inicialmente dedicava apenas o seu tempo livre junto com alguns amigos entusiastas, chegando muitas vezes até o próprio Chapman atuar como piloto de testes. 
Os seus conhecimentos de engenharia aeronáutica foram um grande diferencial nos seus projetos automotivos, ele é lembrado por sua filosofia "Mais potência para torna-lo mais rápido nas retas. Menos peso para torna-lo mais rápido em todos os lugares", ou seja, buscar sempre carros leves com aerodinâmica refinada e não se preocupar apenas com a potência.
O primeiro modelo da Lotus foi o Mk1 em 1948, na verdade uma versão modificada do Austin 7, porque os carros foram chamados de "Lotus" nunca foi esclarecido e deu margem a várias teorias, a mais “popular” é que Hazel, ainda a namorada de Colin, tinha o romântico apelido de "Flor de Lotus”. 
Em 1949 veio o Lotus Mk2 e outros até chegar o Lotus 6 em 1952, este carro podia ser vendido em kits e mais de 100 unidades foram vendidos até 1956. No final de 1954 Chapman se desligou do trabalho com outras equipes, como a BRM, e passou a se dedicar inteiramente a “Lotus Engineering” e ao “Team Lotus”, a nova operação criada para competições. Chapman teve uma breve aventura como piloto, mas desistiu após bater o seu Vanwall com o companheiro de equipe Mike Hawthorn durante os treinos para o GP da França de 1956, em Reims.
Em 1957 foi lançado o Lotus 7 e com ele a Lotus atingiu outro patamar, o sucesso foi tão grande que a Caterham ainda fabrica uma versão desse carro chamado de Caterham 7. Nas pistas o trabalho de Chapman começava a revolucionar o conceito do automobilismo, seus modelos esportivos leves e com motor central frequentemente venciam modelos Ferrari e Maserati, maiores e mais potentes.
Além dos carros esportivos o Team Lotus começou a projetar e construir modelos de fórmulas, os carros eram muito competitivos e o sucesso da equipe atraiu outros gênios para fazer parte do time como Mike Costin e Keith Duckworth, fundadores da Cosworth, até mesmo Graham Hill trabalhou na Lotus como mecânico.
As vitórias proporcionavam uma série de encomendas de outras equipes, foi assim até chegar a Lotus decidir competir oficialmente na F1, a estreia da equipe foi no GP de Mônaco de 1958 e a primeira vitória veio no GP dos Estados Unidos de 1961 com Innes Ireland, mas em 1957 Stirling Moss venceu o GP de Mônaco com um Lotus 18, pela equipe independente Rob Walker Racing Team. 
O “Team Lotus” da época parecia que poderia vencer o que quisesse, a consagração começou com o revolucionário Lotus 25 que ganhou o Campeonato Mundial de F1 em 1963. O “Team Lotus” sob a direção de Chapman ganhou nada menos de seis títulos mundiais de F1 de pilotos (1963, 1965, 1968, 1970, 1972 e 1978), sete títulos de construtores da F1 (1963, 1965, 1968, 1970, 1972, 1973 e 1978), 102 pole positions e 74 vitórias, também venceu a indy 500 de 1965 (participou de  1962 e 1978). 
A lista de pilotos geniais que guiaram para Chapman ao longo dos tempos é fenomenal: Moss, Clark, Hill, Rindt, Peterson, Andretti, Fittipaldi, Senna e Piquet entre outros, mas a parceria de Chapman com Jim Clark ainda é considerada por muitos a mais talentosa que a F1 assistiu, maior ainda do que Ken Tyrrel com Jack Stewart ou Michael Schumacher com Ross Brawn. 
Clark e Chapman também eram grandes amigos, ao ponto que a morte de Clark em 1968 (a bordo de um Lotus 48) numa prova de F2 em Hockenheim quase o fez desistir de tudo, mas seguiu em frente.
A lista de genialidades técnicas criadas por Chapman é infinita e muitas são utilizadas até hoje, ele foi o pioneiro no uso de suportes nas estruturas das suspensões traseiras (que levou a criação da MacPherson), construção de chassis monocoque (no Lotus 25 de 1962), utilização de novos compostos leves e resistentes, convenceu a Ford em 1966 a patrocinar o desenvolvimento do que viria a ser o motor de corrida DFV da Cosworth
Foi pioneiro a utilizar asas aerodinâmicas na fórmula Tasman (1968), deslocou os radiadores para as laterais para distribuir o peso e reduzir o arrasto e junto com Tony Rudd e Peter Wright introduziu na F1 o efeito solo (dos fantásticos Lotus 78 e 79).
Nem tudo deu sempre certo, em 1968 desenvolveram um carro movido a turbina e tração nas 4 rodas para correr na Indy, foi um fracasso. A mecânica era complexa demais, pouco confiável e a transmissão tinha que passar embaixo do piloto, a velocidade final era muito fraca. Com tudo isso em 1969 o projeto foi abandonado sem nunca ter competido oficialmente. 
Na época da sua morte, em 1982, a Lotus já estava testando o primeiro carro de F1 com suspensão ativa, o projeto só estreou em 1987 com o Lotus 99T que foi pouco competitivo, mas este conceito deu muito certo com a equipe Willians que dominou a F1 na década de 1990.
Além de engenheiro brilhante Chapman também foi um homem de negócios bem sucedido, foi ele que introduziu o patrocínio através da publicidade nas corridas de automóveis (cigarros Gold Leaf), isso mudou a F1 de um passatempo de cavalheiros ricos a um negócio mundial de milhões de libras, envolvimento direto das montadoras e muita pesquisa em novas tecnologias automotivas.
Desde 1978 Chapman esteve envolvido com John Delorean no projeto que viria a ser o DMC12, Delorean teve sérios problemas com a justiça e alguns destes problemas respigaram em Chapman, ambos enfrentaram processos, Colin Chapman faleceu antes do julgamento final. 
Alguns amantes das teorias da conspiração dizem que sua morte foi uma farsa para escapar da justiça, houve até relatos que Chapman foi visto bem vivo em países da América Central e do Sul, mas nunca nada foi comprovado..
Chapman foi casado com Hazel e tiveram duas filhas e um filho, Clive Chapman, que atualmente se dedica a restauração, manutenção e operação de modelos históricos da equipe Lotus F1. Chapman sofreu um ataque cardíaco fatal em 1982 aos 54 anos de idade, após a sua morte a "Lotus Engineering" mudou de mãos e o "Team Lotus" nunca mais foi o mesmo sem a sua genialidade, mas isso é outra história. 

Pensadores - Jeremy Clarkson


“Velocidade nunca matou ninguém. Parar de repente que é o problema”.
Jeremy Clarkson

11/08/2016

Quando um motor de F1 tinha barulho de motor de F1...

(mais uma contribuição do amigo e "Harlista" Koiti)

... muito diferente do barulho dos ultramodernos, complexos e sofisticados motores sem-sal da F1 atual (pelo menos na opinião deste blog).


10/08/2016

Barney Navarro

Apesar de ser considerado um das lendas do Hot Rod, Barney Navarro é pouco conhecido (como no Brasil) se comparado a outros pioneiros como Ed Roth, Dean Moon ou Vic Edelbrock (Sr e Jr).
Talvez isso tenha acontecido porque ele nunca tenha se importado em ser famoso, teorias a parte, vamos falar um pouco da sua história que é o que realmente importa...
Barney Navarro nasceu em 1919, cursou o ensino médio e a escola profissional em Glendale na Califórnia, se envolveu com corridas até o final da década de 1930 quando começou a deixar a carreira de piloto de lado para se dedicar a construção de hot rods. 
Eram nos seus hot rods onde Barney experimentava suas criativas ideias para aumentar a potência dos motores V8, para se ter uma ideia em 1941 causou espanto ao atingir 107 MPH em um Ford Modelo T em Muroc Lake, na Califórnia. 
Nesta façanha Barney utilizou um modelo T (emprestado!) com um motor Ford Flathead, carburadores duplos Weiand e cabeçotes modificados projetados por ele próprio.
O relacionamento estreito de Navarro com Phil Weiand o ajudou a iniciar o seu próprio negócio em 1947, a “Navarro Engineering”. 
Barney Navarro foi o primeiro a desenvolver projetos customizados de coletores de admissão para Weiand, ele também projetou cilindros de alumínio e outras partes customizadas, mas talvez o seu maior feito tenha sido ser o primeiro a instalar com sucesso um supercharger GM em um motor Ford V8 Flathead e atingir 147 MPH!
Rapidamente, Barney Navarro tornou-se referência na evolução dos míticos motores “flathead”, na verdade ele conseguira melhorar tudo o que se aventurava.
Mesmo com este reconhecimento os resultados dos negócios nunca estiveram à altura de sua competência técnica, muitos dizem que foi porque ele nunca deu muita importância ao marketing, na verdade a publicidade ficava limitada a alguns artigos técnicos publicados em revistas especializadas. 
Para Barney Navarro o que realmente era importante era o trabalho e não tornar-se famoso, o seu grande amigo Mike Herman explica; "Ele escreveu alguns artigos técnicos para revistas, mas achava que tudo aquilo desviava a sua atenção do foco real”, e completa “Ele acreditava no verdadeiro trabalho, e não em usar o Hot Rodding para ser o mais famoso possível”.
Ao longo dos anos 1950 os motores flatheads foram sendo colocados de lado e, junto com a pouca visibilidade comercial, levou a Navarro Engineering enfrentar muitas dificuldades. Esta situação obrigou Navarro a buscar outras formas para tocar o seu negócio, foi assim que acabou estreitando a ligação com corridas e começando a prestar outros serviços de engenharia. 
Junto com Ken Saint Oegger, Barney construiu motores para lanças de competição e se aventurou com construção civil desenvolvendo um tipo inovador de concreto (em uso até hoje).
No final dos anos 1960 Navarro se aventurou na Fórmula Indy, o motor escolhido era algo totalmente inédito: um Rambler de seis cilindros com comando de válvulas no cabeçote e 199 polegadas cúbicas. 
Foram desenvolvidos modelos aspirados e turbo comprimidos extraindo 600 HP, um resultado espantoso para este tipo de motor e para a época, mas diversos problemas técnicos e com pilotos atrapalharam os resultados nas pistas, por fim não conseguiram se classificar na Indy 500 em três anos de tentativas.
Com o avançar da idade Navarro escolheu Mike Herman para dirigir a Navarro Engineering cuja sede sempre esteve em Glendale, Barney continuou colocando a “mão na massa” de verdade e desenvolvendo peças customizadas até o seu falecimento, em 20 de agosto de 2007 aos 88 anos de idade. 
A “H & H Flatheads” assumiu a operação da Navarro Engineering e garante a continuidade do legado de Barney Navarro através da produção customizada de cabeçotes Flathead, coletores de admissão e outras partes.
Barney Navarro representa, sem dúvida, uma das melhores personificações do espírito Hot Rod.