02/10/2016

The Bandidos


O “The Bandidos Motorcycle Club” é um clube de motociclistas fundado em 1966 em Houston, Texas, o fundador foi um cara chamado Donald Chambers, um estivador que tinha 36 anos na época. A inspiração do nome veio dos grupos mexicanos de foras-da-lei que viviam sob suas próprias regras, o lema do MC é "We are the people your parents warned you about" ou "Nós somos as pessoas que seus pais lhe advertiram sobre... ".
Muitos membros eram veteranos da Guerra do Vietnã e descendentes de caucasianos do sexo masculino, mas não existia restrição para afiliação de hispânicos. Para se tornar um membro "full member" o candidato precisa de alguma indicação de outro membro do MC, o processo de adesão leva cerca de dois anos e tem três etapas; "hangaround", "perspective" e "probation" (liberdade condicional). 
No começo da década de 1970 o grupo contava com pouco mais de 100 membros, a maioria vivia na região de Houston e em cidades próximas como Galveston e San Antonio, a partir desta época começaram a serem abertos capítulos em outros estados e outros países, talvez por isso as suas rixas com outros MC se acirraram muito (será assunto para outro post futuro).
Atualmente contam com 2.400 membros distribuídos em 90 capítulos nos Estados Unidos, os mais importantes continuam concentrados no Texas, mas existem outros em estados como Missouri, Novo México, Colorado, Nevada, Washington, Oklahoma, Nebraska, etc. Existem aproximadamente outros 90 capítulos na Europa, o primeiro foi fundado em Marseille na França em 1989, outros 20 na Austrália, fundados a partir de 1983, e 2 no sudeste asiático.
Como outros MC os The Bandidos tem um grande número de clubes menores afiliados, estes clubes precisam seguir os mesmos princípios para terem o “direito” de utilizar o nome e símbolos oficiais, mas não tem poder de voto ou decisão sobre assuntos relevantes. Normalmente para diferencia-los os clubes suporte utilizam o padrão de cores dos símbolos de forma invertida; borda dourada e fundo vermelho ao invés da borda vermelho e fundo dourado original.
Não podemos afirmar o que é intencional ou não, mas muitos membros dos The Bandidos seguem o mesmo padrão de comportamento dos MC rivais como os Hells Angels e The Outlaws, isto é, um longo envolvimento com rixas com clubes rivais, crimes e delitos, tanto nos Estados Unidos como em outros países onde mantem capítulos ativos.
Para entender do que estamos falando, vamos a alguns casos;
Em novembro de 2006 um membro do capitulo de Washington chamado Glenn Merritt foi condenado a quatro anos de prisão por posse de drogas e tráfico de bens roubados, no total 32 membros do clube foram investigados incluindo o presidente mundial George Wegers, dezoito membros foram considerados culpados de algum delito.
Em Agosto de 2004, um carro de polícia passava pela Interstate 10 quando foi avisado sobre um homem deitado ao lado do carro, era o boxeador Robert Quiroga campeão da categoria peso mosca (1990-1993) pela FIB, ele tinha sido esfaqueado várias vezes. Um membro dos The Bandidos chamado Richard Merla foi preso em 2006 e condenado a 40 anos de prisão, ele chegou a declarar "Eu não me arrependo. Eu não tenho nenhum remorso. Eu não sinto pena dele e de sua família...". O capitulo de San Antonio onde Merla fazia parte negou qualquer envolvimento no crime e afirmou que as ações de Merla foram de sua própria responsabilidade, depois do caso Merla foi expulso dos The Bandidos.
Em março de 2006 a polícia em Austin, Texas, anunciou que os The Bandidos eram os principais suspeitos pelo assassinato de um motociclista local, de 44 anos de idade chamado Anthony Benesh. Benesh tentava iniciar um capítulo dos Hells Angels em Austin, mas foi baleado na cabeça por um atirador não identificado que utilizou um rifle de alta potência. No mesmo final de semana ocorreu a festa de aniversário anual dos The Bandidos marcando o 40º aniversário da fundação do clube. A polícia afirmou que a vítima vinha recebendo diversas ameaças por telefone para parar de usar o colete com o símbolo dos Hells Angels.
Em 17 de Maio, 2015, membros dos The Bandidos estiveram envolvidos no tiroteio que ocorreu no estacionamento de um restaurante em Waco, Texas. O resultado foram nove pessoas mortas e 18 feridos! Apesar da investigação não estar encerrada três membros do alto escalão do The Bandidos MC (vice-presidente nacional John Portillo, presidente nacional Jeffrey Ray Pike e Justin Cole Forster) já foram levados sob custódia pelo FBI, em janeiro de 2016.
Fora dos capítulos dos Estados Unidos também existe uma longa lista de confusão. Na Escandinávia ocorreu uma guerra de territórios (e pela distribuição de drogas) envolvendo os Hells Angels entre 1993 a 1997. O resultado foram 11 assassinatos, 74 tentativas de assassinatos e 96 feridos.
Em 14 de janeiro de 2009, o presidente do capítulo da Suécia, Mehdi Seyyed, foi condenado a nove anos de prisão por duas acusações de tentativa de homicídio. Ele “bombardeou” dois carros em Gotemburgo, em setembro de 2006, com granadas de mão.
Em 8 de abril de 2006, quatro veículos contendo os corpos de oito homens assassinados foram descobertos em uma plantação próximo a aldeia de Shedden, Ontário, Canadá. Seis dos mortos eram membros do capítulo de Toronto dos Bandidos, incluindo o presidente da organização no Canadá, a polícia concluiu que a dinâmica dos assassinatos teve "estilo de execução" e descreveu o caso como uma limpeza interna da organização. E por ai vai...
Como eles mesmos dizem, os The Bandidos são parte do 1% dos clubes de motociclistas que vivem a vida sem restrições, só precisamos entender melhor a definição de “restrições”.

14/09/2016

Targa Florio

A Targa Florio foi uma corrida de resistência disputada em estradas e ruas das montanhas da Sicília, próximo a cidade de Palermo. A prova é considerada é mais antiga competição de carros esportes que existiu, foi criada pelo pioneiro do automobilismo e também piloto Vicenzo Florio em 1906, na verdade ele já tinha criado outra corrida na cidade de Brescia chamada “Coppa Florio” em 1900. Na época o cara era uma espécie de Bill France SR europeu...  
Na primeira edição da Targa Florio foram percorridas em um traçado conhecido como “Grande”, totalizava um percurso de 446 km (277 milhas) em três voltas, o vencedor foi Alessandro Cagno com um tempo de mais de nove horas a 50 km/h de média (30 milhas). O recorde de volta do circuito “Grande” foi de "incríveis" 2 horas, 3 minutos e 54 segundos (média de 70,7 km/h), assinalada pelo ás italiano Achille Varzi com um Bugatti Tipo 51 na edição de 1931.
O grande desafio da Targa Florio era superar a dificuldade de pilotar em uma pista de traçado e variações únicas no mundo, o traçado “Grande” tinha mais de 2.000 curvas por volta! Nas edições de 1932 a 1936 e 1951 a 1977 foi utilizado um traçado conhecido como “Circuito Piccolo dele Madonie” de 72 quilômetros (45 milhas) e mais de 800 curvas, geralmente percorrido em 11 voltas. 
O traçado da prova formado por estradas públicas tornava quase impossível para os pilotos treinarem, no máximo algumas semanas antes eles colocavam placas nos seus carros de corrida e dividiam o traçado com o trafego normal. Como nos rallies os carros eram liberados um a um, com cerca de 15 segundos de intervalo, o que logo transformava o tráfego dos competidores mais lentos um outro desafio a ser superado.
Durante as décadas de 1920 e 1930 a competição tornou-se uma das mais importantes da Europa, rivalizando com as 24 horas de Le Mans e a Mille Miglia, a corrida só foi interrompida durante as duas grandes guerras. 
Em 1953 foi criado a FIA criou o “WSC - World Sportscar Championship” e a partir de 1955 a Targa passou a ser uma etapa oficial do mundial. Neste ano a Ferrari e outras marcas Italianas foram batidas pela Mercedes-Benz que fez uma dobradinha com Stirling Moss / Peter Collins e Juan Manuel Fangio / Karl Kling com os incríveis 300 SLR. 
Dream team é isso!
No final da década de 1960 começaram a participar carros com mais de 600 CV como as Ferraris 512S, Alfa Romeo 33 e Porsche 908/03 Spyders, naturalmente estes monstros voando no meio das vilas repletas de moradores/espectadores elevaram consideravelmente os riscos que já não eram baixos. 
Em 1973 ocorreram dois acidentes fatais, um com o piloto Charles Blyth e outro envolvendo um grupo de espectadores e mantando uma pessoa, outros acidentes foram registrados ferindo mais sete espectadores. A FIA também começava a impor novas regras de segurança (barreiras de proteção), que eram impossíveis de serem adotadas pelo tamanho e característica do circuito. 
Com tudo isso a Targa foi retirada do WSC no mesmo ano, em 1973.
Mesmo fora do WSC a Targa sobreviveu como um evento nacional até 1977, na edição deste ano ocorreu outro acidente fatal vitimando dois espectadores e ferindo gravemente mais cinco pessoas. As autoridades locais decidiram paralisar a prova na quarta volta e isso marcou o fim da Targa Florio como competição. Em 61 edições e 71 anos de história a Targa vitimou nove pessoas, outras provas como a Mille Miglia ou o Tourist Trophy tem um histórico de casualidades muito pior, mesmo assim a segurança e sanidade falaram mais alto antes de haver alguma tragédia maior.
Afora tudo isso a Targa deixou um legado inegável ao automobilismo, após os suas vitórias a Porsche decidiu nomear a versão de teto removível do seu modelo 911 como “Targa”, o que acabou virando uma nomenclatura padrão para este estilo de capota, outras montadoras também utilizaram referencias a prova para nomear seus modelos, como o Leyland P76 Targa Florio.
   
Lista do Vencedores;

07/09/2016

Colin Chapman

É quase impossível retratar a grandeza e a genialidade de Anthony Colin Bruce Chapman, afinal poucos foram tão geniais, criativos e inovadores como ele...
Nascido em 09 de maio de 1928, em Londres, Colin Chapman cursou engenharia estrutural no “University College London” e depois aprendeu a voar na “University of London Air Squadron”, em 1944 conheceu a sua futura esposa, Hazel Williams, pessoa que teve um papel fundamental no seu envolvimento com carros e corridas. Entrou por um breve período para a RAF (Royal Air Force) em 1948 e retornou a vida civil em 1952 fundando a “Lotus Engineering”, mas inicialmente dedicava apenas o seu tempo livre junto com alguns amigos entusiastas, chegando muitas vezes até o próprio Chapman atuar como piloto de testes. 
Os seus conhecimentos de engenharia aeronáutica foram um grande diferencial nos seus projetos automotivos, ele é lembrado por sua filosofia "Mais potência para torna-lo mais rápido nas retas. Menos peso para torna-lo mais rápido em todos os lugares", ou seja, buscar sempre carros leves com aerodinâmica refinada e não se preocupar apenas com a potência.
O primeiro modelo da Lotus foi o Mk1 em 1948, na verdade uma versão modificada do Austin 7, porque os carros foram chamados de "Lotus" nunca foi esclarecido e deu margem a várias teorias, a mais “popular” é que Hazel, ainda a namorada de Colin, tinha o romântico apelido de "Flor de Lotus”. 
Em 1949 veio o Lotus Mk2 e outros até chegar o Lotus 6 em 1952, este carro podia ser vendido em kits e mais de 100 unidades foram vendidos até 1956. No final de 1954 Chapman se desligou do trabalho com outras equipes, como a BRM, e passou a se dedicar inteiramente a “Lotus Engineering” e ao “Team Lotus”, a nova operação criada para competições. Chapman teve uma breve aventura como piloto, mas desistiu após bater o seu Vanwall com o companheiro de equipe Mike Hawthorn durante os treinos para o GP da França de 1956, em Reims.
Em 1957 foi lançado o Lotus 7 e com ele a Lotus atingiu outro patamar, o sucesso foi tão grande que a Caterham ainda fabrica uma versão desse carro chamado de Caterham 7. Nas pistas o trabalho de Chapman começava a revolucionar o conceito do automobilismo, seus modelos esportivos leves e com motor central frequentemente venciam modelos Ferrari e Maserati, maiores e mais potentes.
Além dos carros esportivos o Team Lotus começou a projetar e construir modelos de fórmulas, os carros eram muito competitivos e o sucesso da equipe atraiu outros gênios para fazer parte do time como Mike Costin e Keith Duckworth, fundadores da Cosworth, até mesmo Graham Hill trabalhou na Lotus como mecânico.
As vitórias proporcionavam uma série de encomendas de outras equipes, foi assim até chegar a Lotus decidir competir oficialmente na F1, a estreia da equipe foi no GP de Mônaco de 1958 e a primeira vitória veio no GP dos Estados Unidos de 1961 com Innes Ireland, mas em 1957 Stirling Moss venceu o GP de Mônaco com um Lotus 18, pela equipe independente Rob Walker Racing Team. 
O “Team Lotus” da época parecia que poderia vencer o que quisesse, a consagração começou com o revolucionário Lotus 25 que ganhou o Campeonato Mundial de F1 em 1963. O “Team Lotus” sob a direção de Chapman ganhou nada menos de seis títulos mundiais de F1 de pilotos (1963, 1965, 1968, 1970, 1972 e 1978), sete títulos de construtores da F1 (1963, 1965, 1968, 1970, 1972, 1973 e 1978), 102 pole positions e 74 vitórias, também venceu a indy 500 de 1965 (participou de  1962 e 1978). 
A lista de pilotos geniais que guiaram para Chapman ao longo dos tempos é fenomenal: Moss, Clark, Hill, Rindt, Peterson, Andretti, Fittipaldi, Senna e Piquet entre outros, mas a parceria de Chapman com Jim Clark ainda é considerada por muitos a mais talentosa que a F1 assistiu, maior ainda do que Ken Tyrrel com Jack Stewart ou Michael Schumacher com Ross Brawn. 
Clark e Chapman também eram grandes amigos, ao ponto que a morte de Clark em 1968 (a bordo de um Lotus 48) numa prova de F2 em Hockenheim quase o fez desistir de tudo, mas seguiu em frente.
A lista de genialidades técnicas criadas por Chapman é infinita e muitas são utilizadas até hoje, ele foi o pioneiro no uso de suportes nas estruturas das suspensões traseiras (que levou a criação da MacPherson), construção de chassis monocoque (no Lotus 25 de 1962), utilização de novos compostos leves e resistentes, convenceu a Ford em 1966 a patrocinar o desenvolvimento do que viria a ser o motor de corrida DFV da Cosworth
Foi pioneiro a utilizar asas aerodinâmicas na fórmula Tasman (1968), deslocou os radiadores para as laterais para distribuir o peso e reduzir o arrasto e junto com Tony Rudd e Peter Wright introduziu na F1 o efeito solo (dos fantásticos Lotus 78 e 79).
Nem tudo deu sempre certo, em 1968 desenvolveram um carro movido a turbina e tração nas 4 rodas para correr na Indy, foi um fracasso. A mecânica era complexa demais, pouco confiável e a transmissão tinha que passar embaixo do piloto, a velocidade final era muito fraca. Com tudo isso em 1969 o projeto foi abandonado sem nunca ter competido oficialmente. 
Na época da sua morte, em 1982, a Lotus já estava testando o primeiro carro de F1 com suspensão ativa, o projeto só estreou em 1987 com o Lotus 99T que foi pouco competitivo, mas este conceito deu muito certo com a equipe Willians que dominou a F1 na década de 1990.
Além de engenheiro brilhante Chapman também foi um homem de negócios bem sucedido, foi ele que introduziu o patrocínio através da publicidade nas corridas de automóveis (cigarros Gold Leaf), isso mudou a F1 de um passatempo de cavalheiros ricos a um negócio mundial de milhões de libras, envolvimento direto das montadoras e muita pesquisa em novas tecnologias automotivas.
Desde 1978 Chapman esteve envolvido com John Delorean no projeto que viria a ser o DMC12, Delorean teve sérios problemas com a justiça e alguns destes problemas respigaram em Chapman, ambos enfrentaram processos, Colin Chapman faleceu antes do julgamento final. 
Alguns amantes das teorias da conspiração dizem que sua morte foi uma farsa para escapar da justiça, houve até relatos que Chapman foi visto bem vivo em países da América Central e do Sul, mas nunca nada foi comprovado..
Chapman foi casado com Hazel e tiveram duas filhas e um filho, Clive Chapman, que atualmente se dedica a restauração, manutenção e operação de modelos históricos da equipe Lotus F1. Chapman sofreu um ataque cardíaco fatal em 1982 aos 54 anos de idade, após a sua morte a "Lotus Engineering" mudou de mãos e o "Team Lotus" nunca mais foi o mesmo sem a sua genialidade, mas isso é outra história. 

Pensadores - Jeremy Clarkson


“Velocidade nunca matou ninguém. Parar de repente que é o problema”.
Jeremy Clarkson