22/11/2016

Gasser

Embora nem sempre devidamente reconhecidos, os “gassers” foram grandes pioneiros no que hoje são as corridas de arrancada profissional (dragsters). Estes carros de aparência esquisita surgiram no final dos anos 1950 e tiveram seu auge em termos de prestígio no início dos anos 1970.
Quem não se lembra das gravuras dos monstros de Ed Roth empinando gassers super envenenados?
A história começa nos anos 1950, as corridas de arrancada passavam por mudanças sensíveis, se antes as corridas aconteciam em amplos locais naturais como os lagos secos El Mirage e Bonneville, aos poucos passaram a ocorrer provas em ruas ou pistas fechadas, ainda que sempre em linha reta. 
Se antes o que valia era a velocidade máxima final, agora a disputa era contra o relógio, vencia quem levava menos tempo e não mais quem atingia somente as maiores velocidades.
Os carros e pilotos tiveram que mudar para se adaptar a nova dinâmica destas corridas, embora as receitas básicas de preparação continuavam por aliviar o peso do carro e conseguir mais potência. Para resolver o primeiro problema o acabamento interior era retirado, vidros trocados por plexiglass e partes da lataria trocadas por fibra de vidro. 
Já para resolver o segundo "problema", o mais comum era a instalação de motores maiores (geralmente V8s Ford Flathead ou Pontiac 389), também era comum o uso de compressores mecânicos (Paxton).
Só que essas "soluções" criavam um outro e grande problema; Como conseguir domar tanta cavalaria e manter o carro em linha reta?
Entre tantas tentativas uma começou a chamar atenção pelo visual diferenciado dos carros, os Gassers. O nome veio porque estes carros utilizavam gasolina e não etanol ou nitrometano, normalmente eram baseados em modelos de produção dos anos 1930 até 1960 (Willys Coupe 1940-41, Studebaker 1937-41, Willys 1933 e o Ford Anglia), a aparência distinta ficava por conta da adoção de um eixo de feixe de molas na dianteira, o mais comum era adaptar ao chassi o eixo rígido de uma picape ou caminhão. 
Aumentar a altura do motor e deixar o entre-eixos mais curto criava um centro de gravidade mais alto, em teoria, essa nova distribuição de peso ajudaria na tração e aceleração. Para completar a receita eram adotados pneus finos e pequenos na dianteira e bem maiores na traseira. Tudo para aumentar a aderência na arrancada.
No visual eram adotadas pinturas com desenhos e cores chamativas, isso criava o visual “intimidating” que os fãs adoravam.
Não se sabe exatamente quem teve a ideia de levantar o motor e modificar o eixo dianteiro, mas os carros caíram rapidamente no gosto dos fãs até virar a primeira categoria específica de carros modificados. 
A medida que o esporte cresceu foram atraídos patrocinadores, principalmente fabricantes de componentes de motores que usavam as corridas para promover seus produtos, o crescimento da categoria ajudou na criação da National Hot Rod Association (NHRA) em 1951, uma entidade voltada a organizar, promover e criar regras para a modalidade de corridas de arrancada.
Os Gassers tornaram-se a categoria mais popular da NHRA até que, em 1967, foram adotadas novas regras que mudaram o seu destino. 
Passaram a serem aceitos carros feitos com chassis tubulares e carrocerias de fibra de vidro, não sendo mais obrigatório um carro “de verdade” como base do projeto. Desta forma a aparência dos carros foi ficando cada vez mais distinta até chegar ao que estamos acostumados atualmente como “Funny Cars”.
Ao longo da década de 1970 a categoria gassers perdeu o apelo entre as “top” da NHRA, mas ainda vivem através de campeonatos regionais, clubes locais de hot rods e do amor de muitos aficionados que não deixam a história e o espírito rodder se perder...

14/11/2016

Spirit of Ecstasy

Nos primeiros anos do século 20 o radiador era o local preferido pelas fábricas para colocar o emblema da marca, poderia ser na grade, na parte superior ou na tampa. Muitos clientes também gostavam de criar alguma forma de distinção e faziam suas próprias “criações artísticas”. Não podemos esquecer que nesta época o automóvel não era considerado apenas um “meio de transporte”, era muito mais um símbolo de status ou diversão para poucos afortunados.
Os primeiros modelos da Rolls-Royce utilizavam apenas o emblema da marca na parte superior do radiador, mas logo entenderam que só isso não seria suficiente para agregar prestígio e distinção aos seus clientes, era necessário reforçar a imagem de luxo e sofisticação.
A resposta veio com o famoso adorno de radiador com uma figura feminina de prata, o “Spirit of Ecstasy”, também chamado de "Emily", "Silver Lady" ou "Flying Lady".
Poucos sabem, no entanto, que a lady de prata guarda a história de um amor secreto entre um nobre e uma plebeia, história que permaneceu praticamente oculta por mais de uma década, exceto por um pequeno circulo de amigos.
John Walter Edward Douglas-Scott-Montagu, o segundo Barão Montagu de Beaulieu, em 1905 era um pioneiro do movimento do automóvel e editor da revista “Car Illustrated”. O barão tinha uma secretária de 22 anos chamada Eleanor Velasco Thornton, também conhecida como Thorn, eles se apaixonaram quando ela trabalhava para ele na revista.
Muitos justificam que a razão para a relação ter ficado em segredo foi a situação social e econômica de Eleanor, ela vinha de uma família muito pobre e uma relação com um nobre não era bem aceita pela sociedade da época. Mas, provavelmente, a razão verdadeira foi outra, pois o Barão Montagu era casado com Lady Cecil Victoria Constance Kerr desde 1889...
Para eternizar o seu amor o Barão Montagu encomendou ao escultor e amigo Charles Robinson Sykes, graduado no “Royal College of Art de Londres” e que trabalhava em Londres com patrocínio do nobre, um adorno personalizado para o capô de seu Rolls-Royce Silver Ghost, 1910.  
Sykes escolheu, ou foi aconselhado, a utilizar Eleanor Thornton como seu modelo. A estatueta foi desenhada com roupas esvoaçantes e a mão nos lábios sendo chamada “The Whisper” (O sussurro), hoje está em exposição no Museu Nacional Motor em Beaulieu. Apenas três ou quatro peças foram fundidas e destas acredita-se que apenas duas sobreviveram.
Na mesma época a Rolls-Royce estava preocupada com alguns proprietários que estavam criando ornamentos "inapropriados" para seus carros. Claude Johnson, então diretor executivo da marca, foi encarregado de buscar um novo adorno mais digno e gracioso para tornar-se uma marca genérica da Rolls-Royce.
Johnson também fez uma encomenda para Sykes, com as especificações que deveriam transmitir "o espírito da Rolls-Royce”, ou seja, a “velocidade com o silêncio, ausência de vibração, aproveitamento misterioso de grande energia e um organismo vivo bonito de excelente graça...".
Charles Sykes mostrou algumas ideias para Claude Johnson, mas os resultados não impressionaram. Foi então que Sykes sentiu que uma representação feminina seria mais apropriada e decidiu modificar “The Whisper”. O primeiro modelo foi chamado de “O Espírito de velocidade”, mais tarde “Spirit of Ecstasy”.
Henry Royce, um dos fundadores da marca, no início achou que a estatueta não iria agregar nada aos carros, na verdade afirmava que prejudicava a visão do motorista, mas em 06 de fevereiro 1911 foi finalmente apresentado para a Rolls-Royce o "Spirit of Ecstasy", não era difícil notar a semelhança com o "The Whisper”, afinal ambas as obras utilizaram a mesma modelo.
Entre 1911 até 1914 o adorno era prateado feito com níquel ou liga de cromo para não incentivar roubos, apesar de ser considerado um acessório quase todos os modelos adotavam até virar um item de série no começo dos anos 1920. A Rolls-Royce assumiu a fundição das figuras em 1948, até 1951 a fábrica manteve a inscrição com o nome do artista.
Ao longo de sua história o desenho teve onze variações, principalmente em função das mudanças nas carrocerias que levaram a reduções no tamanho da mascote. Em 1930 Sykes foi novamente encarregado pela fábrica de criar uma versão menor para permitir uma visão mais clara para os motoristas. Então em 26 de Janeiro 1934 foi apresentada uma versão agachada, mas depois voltou a posição original e assim permanece até hoje.
A partir de 2003 foi adotado um modelo padrão de 3 polegadas, por segurança o adorno passou a ser montado sobre um mecanismo de mola projetado para retrair instantaneamente se for atingido de qualquer direção. Também existe um botão no painel para aumentar ou diminuir a altura do emblema quando pressionado.
Como ícone da sofisticação da marca, ela pode ser feita de aço inoxidável polido, banhado a ouro com 24 quilates ou de cristal fosco iluminado, também existem versões personalizadas em uma pintura preta fosca ou cravejado em diamantes.
Mas, como finalizou a história de amor entre Eleanor e o Barão Montagu?  Infelizmente de modo trágico, ela morreu em 30 de dezembro 1915 no naufrágio do navio SS Persia, torpedeado por um submarino alemão ao sul de Creta. Eleanor voltava de uma viagem com Lord Montagu, que assumira um comando na Índia durante a primeira guerra mundial. Ele também foi dado como morto, mas sobreviveu após vários dias à deriva em um bote salva-vidas.
Apesar de tudo, seu amor foi eternizado, o Barão Montagu atingiu o seu desejo.

29/10/2016

What´s your name? (França, India, Itália e Holanda)

Já fizemos um giro por uma boa parte das origem das marcas pelo mundo (aqui, aqui e aqui), mas ainda temos um bom caminho pela frente...
... Chegou a hora de abordar alguns países bem tradicionais como França e Itália, em breve vem mais!

02/10/2016

The Bandidos


O “The Bandidos Motorcycle Club” é um clube de motociclistas fundado em 1966 em Houston, Texas, o fundador foi um cara chamado Donald Chambers, um estivador que tinha 36 anos na época. A inspiração do nome veio dos grupos mexicanos de foras-da-lei que viviam sob suas próprias regras, o lema do MC é "We are the people your parents warned you about" ou "Nós somos as pessoas que seus pais lhe advertiram sobre... ".
Muitos membros eram veteranos da Guerra do Vietnã e descendentes de caucasianos do sexo masculino, mas não existia restrição para afiliação de hispânicos. Para se tornar um membro "full member" o candidato precisa de alguma indicação de outro membro do MC, o processo de adesão leva cerca de dois anos e tem três etapas; "hangaround", "perspective" e "probation" (liberdade condicional). 
No começo da década de 1970 o grupo contava com pouco mais de 100 membros, a maioria vivia na região de Houston e em cidades próximas como Galveston e San Antonio, a partir desta época começaram a serem abertos capítulos em outros estados e outros países, talvez por isso as suas rixas com outros MC se acirraram muito (será assunto para outro post futuro).
Atualmente contam com 2.400 membros distribuídos em 90 capítulos nos Estados Unidos, os mais importantes continuam concentrados no Texas, mas existem outros em estados como Missouri, Novo México, Colorado, Nevada, Washington, Oklahoma, Nebraska, etc. Existem aproximadamente outros 90 capítulos na Europa, o primeiro foi fundado em Marseille na França em 1989, outros 20 na Austrália, fundados a partir de 1983, e 2 no sudeste asiático.
Como outros MC os The Bandidos tem um grande número de clubes menores afiliados, estes clubes precisam seguir os mesmos princípios para terem o “direito” de utilizar o nome e símbolos oficiais, mas não tem poder de voto ou decisão sobre assuntos relevantes. Normalmente para diferencia-los os clubes suporte utilizam o padrão de cores dos símbolos de forma invertida; borda dourada e fundo vermelho ao invés da borda vermelho e fundo dourado original.
Não podemos afirmar o que é intencional ou não, mas muitos membros dos The Bandidos seguem o mesmo padrão de comportamento dos MC rivais como os Hells Angels e The Outlaws, isto é, um longo envolvimento com rixas com clubes rivais, crimes e delitos, tanto nos Estados Unidos como em outros países onde mantem capítulos ativos.
Para entender do que estamos falando, vamos a alguns casos;
Em novembro de 2006 um membro do capitulo de Washington chamado Glenn Merritt foi condenado a quatro anos de prisão por posse de drogas e tráfico de bens roubados, no total 32 membros do clube foram investigados incluindo o presidente mundial George Wegers, dezoito membros foram considerados culpados de algum delito.
Em Agosto de 2004, um carro de polícia passava pela Interstate 10 quando foi avisado sobre um homem deitado ao lado do carro, era o boxeador Robert Quiroga campeão da categoria peso mosca (1990-1993) pela FIB, ele tinha sido esfaqueado várias vezes. Um membro dos The Bandidos chamado Richard Merla foi preso em 2006 e condenado a 40 anos de prisão, ele chegou a declarar "Eu não me arrependo. Eu não tenho nenhum remorso. Eu não sinto pena dele e de sua família...". O capitulo de San Antonio onde Merla fazia parte negou qualquer envolvimento no crime e afirmou que as ações de Merla foram de sua própria responsabilidade, depois do caso Merla foi expulso dos The Bandidos.
Em março de 2006 a polícia em Austin, Texas, anunciou que os The Bandidos eram os principais suspeitos pelo assassinato de um motociclista local, de 44 anos de idade chamado Anthony Benesh. Benesh tentava iniciar um capítulo dos Hells Angels em Austin, mas foi baleado na cabeça por um atirador não identificado que utilizou um rifle de alta potência. No mesmo final de semana ocorreu a festa de aniversário anual dos The Bandidos marcando o 40º aniversário da fundação do clube. A polícia afirmou que a vítima vinha recebendo diversas ameaças por telefone para parar de usar o colete com o símbolo dos Hells Angels.
Em 17 de Maio, 2015, membros dos The Bandidos estiveram envolvidos no tiroteio que ocorreu no estacionamento de um restaurante em Waco, Texas. O resultado foram nove pessoas mortas e 18 feridos! Apesar da investigação não estar encerrada três membros do alto escalão do The Bandidos MC (vice-presidente nacional John Portillo, presidente nacional Jeffrey Ray Pike e Justin Cole Forster) já foram levados sob custódia pelo FBI, em janeiro de 2016.
Fora dos capítulos dos Estados Unidos também existe uma longa lista de confusão. Na Escandinávia ocorreu uma guerra de territórios (e pela distribuição de drogas) envolvendo os Hells Angels entre 1993 a 1997. O resultado foram 11 assassinatos, 74 tentativas de assassinatos e 96 feridos.
Em 14 de janeiro de 2009, o presidente do capítulo da Suécia, Mehdi Seyyed, foi condenado a nove anos de prisão por duas acusações de tentativa de homicídio. Ele “bombardeou” dois carros em Gotemburgo, em setembro de 2006, com granadas de mão.
Em 8 de abril de 2006, quatro veículos contendo os corpos de oito homens assassinados foram descobertos em uma plantação próximo a aldeia de Shedden, Ontário, Canadá. Seis dos mortos eram membros do capítulo de Toronto dos Bandidos, incluindo o presidente da organização no Canadá, a polícia concluiu que a dinâmica dos assassinatos teve "estilo de execução" e descreveu o caso como uma limpeza interna da organização. E por ai vai...
Como eles mesmos dizem, os The Bandidos são parte do 1% dos clubes de motociclistas que vivem a vida sem restrições, só precisamos entender melhor a definição de “restrições”.